01 julho 2008

A Criança e o Ensino de Filosofia

O ser humano, especialmente na fase infantil, está à procura do significado. De que maneira a filosofia pode auxiliar nessa busca? Para Lipman, criador do programa de filosofia para as crianças, "O que os filósofos e as crianças têm em comum é a capacidade de se maravilhar com o mundo". Assim sendo, a busca desse significado deve partir do exercício filosófico por excelência, ou seja, do assombro da criança em relação ao conhecimento. Deve partir dela e não de algo imposto por outrem.

A filosofia deve oferecer à criança os recursos necessários para o seu pensar. Esses recursos poderiam ser descritos como a verdadeira educação para o pensar. A educação para o pensar inclui a busca do conceito, o diálogo e a crítica reflexiva. As crianças devem ser educadas a expressar – falar e escrever – as palavras pelo seu sentido próprio. Embora tal comportamento cause transtornos e inquietações, ela não deve recuar porque aí está todo o desenvolvimento de seu ser psíquico, físico, intelectual e moral.

O professor ou professora de filosofia para crianças tem uma grande tarefa: criar condições para que a criança aprenda a se relacionar com o outro. Assim, deve aprender a emitir opiniões e a ouvir as dos outros. Numa discussão, o outro também tem razão; por isso, não há necessidade alguma de monopolizar uma reunião. A criança deve ser educada a estar sempre pronta para aprender, venha o conhecimento de onde vier. A sua leitura não deve ser passiva, mas que a ajude a construir o seu próprio pensamento.

O que se poderia abordar num curso de filosofia para as crianças? Tendo as crianças dispostas em círculos, poder-se-ia lançar algumas perguntas: "O que é amizade? O que é ser pessoa? O que é o real? O que é o medo? O que é a verdade? O que é a injustiça? O que é cidadania? Como o poder é exercido? A morte é o fim de tudo? Sabemos nos comunicar?" Para cada pergunta formulada, uma orientação ao debate, ao diálogo saudável e instrutivo.

Algumas impressões das crianças, extraídas de reuniões e de Congresso de Filosofia entre Crianças: "Através do diálogo fica mais fácil mudar de atitude"; "Depois de uma discussão eu me sinto mais gente"; "Pessoa gera pessoa quando há respeito, boa comunicação, entendimento, compreensão amor e verdade"; "Como separar a pessoa do cidadão? É impossível, pois, um depende do outro, seria como separar água nas suas substâncias formadoras e portanto não seria mais água".

A coparticipação do pensamento é a internalização do diálogo. Evitemos a fragmentação e a crescente especialização do conhecimento. Esforcemo-nos para torná-lo crítico, criativo e cuidadoso.

Fonte de Consulta

MURARO, Darcísio N. Filosofia para Crianças: Educação para o Pensar. In PIOVESAN, Américo et al. (org.). Filosofia e Ensino em Debate. Rio Grande do Sul: Unijui, 2002. (Coleção Filosofia e Ensino, 2).


 


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