30 junho 2008

Identidade

Entre os lógicos, a lei de identidade costumava ser expressa desse modo: A é A. Em vista, porém, da ambiguidade que cerca essa cópula, a própria lei se torna ambígua e tautológica. O melhor enunciado é o seguinte: A é A necessariamente, mas só enquanto é A. em outras palavras, enquanto A é A, não pode ser simultaneamente não A.

Juntamente com o princípio de identidade, temos o princípio da contradição e o princípio do terceiro excluído. Enunciado da contradição: impossível é afirmar e negar o mesmo de algo sob o mesmo aspecto, e simultaneamente; ou melhor: o que é não pode ser simultaneamente o que não é, porque é o que é. Enunciado do terceiro excluídoA é B, ou não é B. Neste caso seria falso que A é B como também seria falso que A não é B, o que violaria o princípio de contradição.

A dialética procura identificar a verdade dos fatos. Parte das premissas do seu interlocutor para demonstrar a sua própria tese. As teses opostas dos interlocutores não podem ser, portanto, ambas verdadeiras e se eu puder por outrem em contradição consigo próprio, obrigo a abandonar a sua tese. Por isso, para aprender com êxito, são necessários a discussão e o diálogo socrático. O homem que pensa somente por si parece-se ao caminhante no deserto, que depois de muito andar volta ao ponto de partida, porque o corpo fê-lo andar em circunferência, quando ele imaginava andar em linha reta.

O estigma é uma deterioração da identidade. Não são poucas as pessoas estigmatizadas por si mesmas ou por outrem. Além do mais, não é tarefa fácil saber quem estigmatiza quem na sociedade. É o caso da menina que nasceu sem o nariz. Por mais que ela queira se ajustar à sociedade, não consegue. Não consegue porque ela leva consigo essa marca, ou porque as pessoas a tratam de forma inconveniente? A questão racial está incluída no mesmo processo. Há, também, a influência do marketing televisivo, que não nos deixa ver o fundo da verdade.

Como, então, identificar a verdade de um fato? A auto-aceitação e uma vida isenta de defesas fornecem-nos bom material. Aceitando-nos tais quais somos, capacitamo-nos a olhar o mundo de forma mais sensata e sem ilusão; estando sem defesas, não precisamos criar imagens que nos estigmatizam perante os outros. Estas duas atitudes conduzem-nos à humildade, o fundamento de todas as virtudes. Somente o verdadeiro humilde consegue penetrar no fundo das verdades, porque é somente ele que consegue renunciar à sua própria personalidade.

Tenhamos confiança na Divina Providência. Saibamos sofrer as agruras de nosso destino, sem nos deixarmos sufocar pelos voos débeis de nossa imaginação.

Fonte de Consulta

HEGENBERG, L. Dicionário de Lógica. São Paulo, EPU, 1995

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965

THINES, G. e LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa, Edições Julho/1984.


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