A sociedade, de um modo geral, convida-nos ao individualismo e à
personalização do nosso eu, principalmente com a oferta crescente de bens e
serviços. É o aparelho de micro-ondas, o rádio, a Televisão, os jogos de
computador e tantos outros. Como tudo parece normal, aprisionamo-nos, sem o
percebemos, ao sistema econômico e financeiro vigentes. Estamos sempre
atarefados, sem tempo para os familiares e os entes queridos. Contudo,
pergunta-se: será que todas essas atividades são necessárias? Fecundas? Produtivas?
Platão, na antiguidade, desenvolveu o Mito da Caverna. Nesse mito, ele coloca os homens
voltados para o fundo da caverna, de modo que só podiam ver as próprias
sombras. Dentre tais homens ele aponta um, que se vira e vai ao encontro da
luz. As sombras representam, no mito, as atividades superficiais da vida,
mormente relacionadas ao progresso técnico e científico. Se o homem não
conseguir olhar para além dos sentidos físicos, ele acaba se tornando
materialista, sujeito a todos os desejos que tal atitude acarreta.
A verdadeira atividade consiste no trabalho fecundo do espírito. É
uma volta constante para dentro de si mesmo, como fazia Sócrates na
antiguidade. Para tais homens, desprovidos do interesse pessoal, a consideração
humana e o prestigio são colocados em segundo plano. O objetivo maior é a busca
da verdade, e para isso são capazes de todos os sacrifícios. Os que vivem na
agitação do dia-a-dia, os que vivem nas sombras não são capazes de entender as
ações de seres humanos voltados apenas para as coisas do espírito.
A vontade humana está sempre pronta para responder aos apelos dos
sentidos. Nesse sentido, basta que sejamos resolutos e atendamos rapidamente a
um estímulo externo e estaremos enquadrados no seio da sociedade. E a vontade
divina? Como atendê-la a contento? A vontade divina independe de uma vontade
férrea de nossa parte. Para concretizá-la, temos que nos fazer fracos e
submissos ao Criador. Não adianta impormos a vontade humana; é preciso que
saibamos captar a vontade de Deus, em primeiro lugar.
A atividade profunda encaminha-nos para a construção do Reino de
Deus dentro de nós. Isso quer dizer que a felicidade e o bem-estar não estão no
exterior, mas no âmago de cada ser. Por que buscar alhures? Se nos voltarmos
totalmente para as coisas do espírito, vamos verificando a vaidade e a
inutilidade de muitas ações que praticamos na sociedade. Procuremos, pois,
adquirir o conhecimento superior e praticar as virtudes morais, porque nenhum
ladrão conseguirá roubá-los de nós.
Não nos preocupemos com o dia de amanhã. "A cada dia basta o
seu mal", diz o Senhor. Aproveitemos integralmente o dia de hoje e
esperemos pacientemente o futuro, que virá seguramente.
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