O termo hermenêutica significa
declarar, anunciar, interpretar ou esclarecer e, por último, traduzir. Esta
multiplicidade de acepções coincide num único ponto: mostrar que alguma coisa é
"tornada compreensível" ou "levada à compreensão". Assim, a
palavra aplica-se, sobretudo, à interpretação daquilo que é simbólico,
especialmente a Bíblia (hermenêutica sagrada). Pode-se dizer também que a
hermenêutica é a tentativa de esclarecer um enunciado obscuro.
Hermenêutica vem de hermeneuein e hermeneia,
o que nos remete a Hermes, o deus-mensageiro-alado que, segundo os gregos, foi
o descobridor da linguagem e da escrita, ferramentas que a compreensão humana
utiliza para chegar ao significado das coisas. Na sua origem etimológica, a
palavra sugere três significados: 1) exprimir em voz alta, ou seja,
"dizer"; 2) explicar, como quando se explica uma situação; 3)
traduzir, como na tradução de uma língua estrangeira. Os três significados
podem ser expressos pelo verbo português "interpretar", mas cada um
tem a sua significação própria e relevante.
Observando a sua evolução histórica,
percebemos que modernamente a hermenêutica absorve seis definições:
1) uma teoria da exegese bíblica; 2) uma metodologia filológica geral; 3) uma
ciência de toda a compreensão linguística; 4) uma base metodológica
do Geisteswissenschaften; 5) uma fenomenologia da existência e da compreensão
humana; 6) sistemas de interpretação, simultaneamente recolutivos e
iconoclásticos, utilizados pelo homem para alcançar o significado subjacente
aos mitos e símbolos. Sintetizando: ênfase bíblica, filológica, científica, geisteswissenschaftliche, existencial e cultural.
O bom ouvinte deve prestar atenção ao
que se disse e mais ainda ao que não se disse. Explica-se: centrarmo-nos
exclusivamente na positividade daquilo que é explicitamente dito no texto é
fazer injustiça à tarefa hermenêutica. A hermenêutica exige que se deve ir além
do texto, para encontrar aquilo que o autor não disse, e que talvez não pudesse
dizer. Recomendação: além da linha veja a entrelinha; além do texto, o
contexto.
Interpretar uma obra significa caminhar
para o horizonte interrogativo no qual o texto se move. Mas isso significa
também que o leitor se move para um horizonte em que outras respostas são
possíveis. Isso mostra que todo o acontecer é singular, como bem enfatizava
Bérgson em sua Evolução Criadora, ou seja, a leitura deve nos levar
para outras percepções do tema tratado. Nesse sentido, o texto tem que iluminar
o horizonte do intérprete; caso contrário, o processo de sua compreensão é um
exercício vazio e abstrato.
O comunicador — escritor, professor ou
orador — deve sempre estimular a criatividade no modo de pensar de seus
ouvintes, a fim de que estes descubram novas formas de interpretar o mesmo
tema.
Fonte de Consulta
PALMER, Richard E. Hermenêutica.
Tradução de Maria Luisa Ribeiro Ferreira. Rio de Janeiro: Edições 70, 1989 (O
Saber da Filosofia)
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