29 junho 2008

Consciência e Autoconsciência

O conhecimento, captado e divulgado por um mestre espiritual, apresenta resultado no tempo-espaço em que foi projetado. Ele serviu para um determinado grupo, numa determinada época. Para ter validade nos dias que correm, há necessidade de renová-lo e adaptá-lo às necessidades presentes, pois a mente e as pessoas estão em eterna mutação. Imaginemos as pregações de Jesus, feitas há 2000 anos, à beira do lago ou nas encostas das montanhas. Será eficaz repetir esses mesmos atos hoje?

Um grupo religioso surge e se fortalece ao redor de um mestre. Este, por sua vez, vale-se de livros e textos de algum revelador do passado. Se o grupo, que se forma hoje, segue de modo irrestrito todos os exercícios, propostos naquela época, há muito mais um adestramento do que um desenvolvimento espiritual. O desenvolvimento espiritual autêntico extrapola tempo, espaço, técnica e qualquer tipo de exercício; ele pressupõe eminentemente a compreensão do que o ser humano está fazendo.

Para que um grupo progrida, os ensinamentos veiculados devem atender às necessidades dos participantes deste grupo. O que adianta traçar planos mirabolantes, evocar as divindades gregas, clamar pelos grandes líderes religiosos, se tudo isso estiver distante dos anseios do grupo? O alimento, para ser eficaz, deve produzir uma transformação nas pessoas que o recebem. A simples repetição de atos exteriores, mesmo dos maiores líderes espirituais da humanidade, conduz ao automatismo e embota a intuição.

Há um evangelho apócrifo que escreve uma observação atribuída a Jesus: "Jesus disse: ‘Havia dois homens que foram vender maçãs. Um deles escolheu vender a pele da maçã por seu peso em ouro, sem se preocupar com sua substância. O outro desejava presentear as maçãs, recebendo em troca um pouco de pão para sua viagem. Porém os homens compraram a pele das maçãs por peso em ouro, sem se importarem com aquele que estava disposto dá-las e quase o desprezando’". A busca do conhecimento, para a maioria de nós, funciona dessa maneira: a substância fica sempre em segundo plano; preferimos pagar um preço muito alto pelas inutilidades, mas recusar o conhecimento gratuito dos sábios.

Qual deve ser, então, o trabalho de um mestre espiritual? O mestre não deve ser o monopolizador das instruções, o conhecedor de todos os mistérios da natureza, ou aquele que dirime todas as dúvidas. A sua função precípua é "des-condicionar" a mente dos seus seguidores, no sentido de fazê-los penetrar na essência do conhecimento espiritual. Para obter êxito nessa empreitada, deve estar constantemente incentivando os seus adeptos a pensarem pela própria cabeça.

Estejamos sempre enaltecendo as virtudes evangélicas. Sejamos os verdadeiros homens de bem, que destroem o ego para que o Cristo interior cresça em espírito e verdade.

 

 

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