O poder — do grego kratos —
manifestou-se desde a Antiguidade até os nossos dias sob diversas formas:
inicialmente a teocracia, em que a divindade dá as leis que regulam
a ordem social; segue-se-lhe a aristocracia, ou o governo dos
melhores, secundada pela oligarquia, governo de poucos e a monocracia,
governo de um; posteriormente, surgem a democracia, governo do
povo, a plutocracia, governo dos ricos e a oclocracia,
domínio das "vontades" populares. Essas fases cráticas não obedecem a
uma exatidão mecânica, pois dependem do grau de intensidade envolvido em cada
momento histórico.
Em toda e qualquer sociedade, independentemente de
sua estrutura econômica ou social, podemos perceber pelo menos quatro
características fundamentais do temperamento humano: 1ª) pessoas com tendência
acentuada para o transcendente, para o místico, para o religioso;
2ª) pessoas que revelam um ímpeto empreendedor, amando a ação pela
ação; 3ª) pessoas em que predominam os valores utilitários,
que tendem a organizar a produção e a riqueza; 4ª) pessoas que
acentuadamente obedecem, que prestam serviços.
Em todos os seres humanos há essas tendências,
ou emergências que se atualizam mais ou menos intensivamente
nos vários graus de predisponência. Convém, aqui, fazer uma
ressalva ao marxismo. A análise meramente materialista-histórica não alcança
corretamente a gestação das classes sociais, porque as vê como produto de uma
estrutura meramente econômica, desligada dessas emergências espirituais que são
inatas em cada ser vivente.
A historiologia — filosofia da
história — deve ser reformulada. Embora as ideias materialistas tenham
influenciado fortemente a filosofia moderna, convém verificar que os homens,
antes de tudo, são almas pensantes. Daí advém os estados criativos e intuitivos
da mente humana, isentos de qualquer finalidade utilitária, restringindo-se tão
somente à perfeita identificação com o "eu" superior. Jungidos ao consumismo
imediato, falseamos o princípio ético da nossa realização pessoal.
A posse do poder, sendo acompanhada pela ambição de
muitos, acaba por confundir os meios com os fins. Nesse sentido, as emergências
individuais que deveriam ser maximizadas acabam sendo negligenciadas. A
política, que é uma técnica de harmonizar os interesses individuais com os
sociais, passa, nesses momentos, a ser uma técnica de conquista do poder e da
conservação do mesmo. É por isso que se vê as crises na história, porque há
sempre uma separação entre os que governam e os que são governados.
Tenhamos em mente que o poder deve ser exercido
para administrar o bem público. Utilizá-lo em benefício próprio pode ocasionar
graves transtornos à consciência.
Fonte de Consulta
SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. Ed., São Paulo, Editora Matese, 1965.
Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/poder
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