Os gregos da antiguidade falavam de uma tímese
parabólica (do gr. timese, apreciação e parabole,
comparação), apreciação por comparação. Essa tímese parabólica é
a apreciação que o homem faz de alguma coisa, comparando-a com a sua forma
perfectiva suprema. Quer dizer, o homem, por sua própria natureza, é um
sonhador de formas sempre mais perfeitas e mais belas. Seu principal trabalho
consiste em atualizar as virtualidades que existem dentro de si mesmo.
Muitos afirmam que o fator econômico é que determina a ação humana. Será
isso verdade? Não são poucos os que confundem Marx com o marxismo, Cristo com o
cristianismo, Descartes com o cartesianismo. Porém, como explicar a conduta de
um Tolstoi, que empregou toda a sua fortuna para educar crianças pobres, de um
Malatesta, doando todos os seus bens em benefício de hospitais para pobres, de
um Francisco de Assis optando pela vida de pobreza? Serão todos eles impulsionados
pelo fator econômico?
O homem difere do animal. Nele há algo que se chama transcendentalidade,
ou seja, o anseio pela emancipação da alma, pela busca do sagrado, do mistério,
do chamado "sobrenatural". É, pois, dentro desse ímpeto de atualizar
valores mais altos que surge a esperança, a fé e a caridade. A esperança — transcender a imanência de
nossa consciência; a fé — assentimento
firme numa verdade não evidente de per si, sem receio de erro, que em nós
desponta sem que nada façamos para tê-la; a caridade — que é o bem amado de nossos
semelhantes.
Uma das características fundamentais do ser humano é a sua capacidade de
dizer não. E o dizer não pode levar o
homem ao "pecado". "Pecado", não por dizer não, mas por
dizer não quando deveria dizer sim, ou seja, quando os imperativos da lei
natural obrigam-no a agir de acordo com o bem e ele age de acordo com o mal.
"Peca", assim, quando prefere o vituperável ao digno, quando escolhe
o erro à verdade, quando se nega a cumprir o seu dever.
Optando pelo mal, transgredimos a lei natural, e devemos sofrer as suas consequências.
Mas, a fé num Deus Supremo, a expectativa de melhoria interior e a caridade
para com o próximo podem abreviar os dias de sofrimento e retornarmos mais
rapidamente ao caminho da perfeição. Não percamos tempo em aceitar as injunções
de muitos poderosos da terra que opinam sobre tudo, inclusive, sobre as
questões da fé, sem a ponderação de uma reflexão mais acurada. Não sejamos semelhantes
ao cirurgião francês, que disse não existir o espírito, porque nunca encontrou
um na ponta de seu bisturi.
Urge, nos dias que correm, robustecer a nossa fé, emprestando-lhe um caráter racional. Sabemos que a fé e a esperança são inatas no ser humano, mas essas virtudes teologais precisam de ser exercitadas com o apoio da razão.
Fonte de Consulta
SANTOS, M. F. dos. Análise de Temas Sociais. São Paulo, Logos, 1962.
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