30 junho 2008

Fé e Esperança

Os gregos da antiguidade falavam de uma tímese parabólica (do gr. timese, apreciação e parabole, comparação), apreciação por comparação. Essa tímese parabólica é a apreciação que o homem faz de alguma coisa, comparando-a com a sua forma perfectiva suprema. Quer dizer, o homem, por sua própria natureza, é um sonhador de formas sempre mais perfeitas e mais belas. Seu principal trabalho consiste em atualizar as virtualidades que existem dentro de si mesmo.

Muitos afirmam que o fator econômico é que determina a ação humana. Será isso verdade? Não são poucos os que confundem Marx com o marxismo, Cristo com o cristianismo, Descartes com o cartesianismo. Porém, como explicar a conduta de um Tolstoi, que empregou toda a sua fortuna para educar crianças pobres, de um Malatesta, doando todos os seus bens em benefício de hospitais para pobres, de um Francisco de Assis optando pela vida de pobreza? Serão todos eles impulsionados pelo fator econômico?

O homem difere do animal. Nele há algo que se chama transcendentalidade, ou seja, o anseio pela emancipação da alma, pela busca do sagrado, do mistério, do chamado "sobrenatural". É, pois, dentro desse ímpeto de atualizar valores mais altos que surge a esperança, a fé e a caridade. A esperança — transcender a imanência de nossa consciência; a  — assentimento firme numa verdade não evidente de per si, sem receio de erro, que em nós desponta sem que nada façamos para tê-la; a caridade — que é o bem amado de nossos semelhantes.

Uma das características fundamentais do ser humano é a sua capacidade de dizer não. E o dizer não pode levar o homem ao "pecado". "Pecado", não por dizer não, mas por dizer não quando deveria dizer sim, ou seja, quando os imperativos da lei natural obrigam-no a agir de acordo com o bem e ele age de acordo com o mal. "Peca", assim, quando prefere o vituperável ao digno, quando escolhe o erro à verdade, quando se nega a cumprir o seu dever.

Optando pelo mal, transgredimos a lei natural, e devemos sofrer as suas consequências. Mas, a fé num Deus Supremo, a expectativa de melhoria interior e a caridade para com o próximo podem abreviar os dias de sofrimento e retornarmos mais rapidamente ao caminho da perfeição. Não percamos tempo em aceitar as injunções de muitos poderosos da terra que opinam sobre tudo, inclusive, sobre as questões da fé, sem a ponderação de uma reflexão mais acurada. Não sejamos semelhantes ao cirurgião francês, que disse não existir o espírito, porque nunca encontrou um na ponta de seu bisturi.

Urge, nos dias que correm, robustecer a nossa fé, emprestando-lhe um caráter racional. Sabemos que a fé e a esperança são inatas no ser humano, mas essas virtudes teologais precisam de ser exercitadas com o apoio da razão.

Fonte de Consulta

SANTOS, M. F. dos. Análise de Temas Sociais. São Paulo, Logos, 1962.


Nenhum comentário: