29 junho 2008

Genealogia do Existencialismo

Essência e existência foram, e ainda são, motivos de reflexão dos filósofos. Para Platão, a essência corresponde à "ideia", e para Aristóteles à "forma". A essência corresponde ao universal e a existência ao particular. O ser é o que é na medida em que tem uma essência, ou forma, conjunto de atributos ou de propriedades que o caracterizam e distinguem dos demais seres. Assim, por exemplo, a essência do homem é a humanidade, do animal a animalidade.

existencialismo é uma antropologia, ou seja, uma reflexão sobre o ser humano enquanto existente. Embora todos os filósofos sejam existencialistas, o termo tomou vulto no sentido de que é a existência que precede a essência, a partir das análises de Sören Kiekegaard, considerado o pai da filosofia existencial. Para que possamos visualizar o existencialismo no tempo e no espaço, convém elaborarmos um pequeno histórico.

Sócrates (470-399) pode ser considerado o mais remoto ancestral do existencialismo. A sua tese vivencial do conhece-te a ti mesmo é um exemplo vivo da união entre a teoria e a prática. Santo Agostinho (354-430), o último filósofo antigo e o primeiro moderno, assinala em sua obra o advento da interioridade do espírito. Blaise Pascal (1623-1662) inscreve-se nesse histórico, empenhando-se em mostrar a "miséria do homem sem Deus". Analisa, através de aforismos e com extraordinária penetração, a duplicidade e as contradições da "natureza humana", que é "nada em relação ao infinito, tudo em relação ao nada, uma ponte entre o tudo e nada".

Sören Kiekegaard (1813-1855) inicia, como vimos, o moderno existencialismo ao afirmar que a fórmula cartesiana deve ser invertida: não existo porque penso mas penso porque existo. Karl Jaspers (1833-1969) insere-se nessa genealogia dizendo que o homem só toma consciência de si próprio nas situações limites, tais como a morte, o sofrimento, a luta, a culpa etc. Martin Heidegger (1899) contribui com sua observação de que a essência consiste em existir, e que o Dasein (ser-aí) é sua possibilidade de realização. Jean-Paul Sartre (1905-1981) entende por existencialismo uma doutrina que torna a vida possível e sustenta que a verdade e a ação implicam uma situação e uma objetividade humana. Gabriel Marcel (1889-1973) desenvolve a afirmação central de que a existência é inesgotável e, a rigor, inefável ou inexplicável.

Embora o existencialismo moderno tenha sido marcado pelo desespero, pela angústia e pela falta de perspectiva com relação à vida futura, assim mesmo deu sua contribuição à libertação do homem. Representando um requisitório em favor do indivíduo e de sua autonomia, constituiu-se numa ação positiva à defesa do homem contra as forças impessoais e anônimas que ameaçam absorvê-lo e desfigurá-lo.

Paulo, nas suas epístolas, já nos dizia que deveríamos ler de tudo e assimilarmos somente o que fosse útil. Fiquemos, pois, com esses aspectos libertários que o existencialismo sugere.

Fonte de Consulta

CORBISIER, R. Enciclopédia Filosófica. 2. ed., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1987.

 

 

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