Essência e existência foram, e ainda
são, motivos de reflexão dos filósofos. Para Platão, a essência corresponde à
"ideia", e para Aristóteles à "forma". A essência corresponde
ao universal e a existência ao particular. O ser é o que é na medida em que tem
uma essência, ou forma, conjunto de atributos ou de propriedades que o
caracterizam e distinguem dos demais seres. Assim, por exemplo, a essência do
homem é a humanidade, do animal a animalidade.
O existencialismo é
uma antropologia, ou seja, uma reflexão sobre o ser humano enquanto existente.
Embora todos os filósofos sejam existencialistas, o termo tomou vulto no
sentido de que é a existência que precede a essência, a partir das análises de
Sören Kiekegaard, considerado o pai da filosofia existencial. Para que possamos
visualizar o existencialismo no tempo e no espaço, convém elaborarmos um
pequeno histórico.
Sócrates (470-399) pode ser considerado o mais
remoto ancestral do existencialismo. A sua tese vivencial do conhece-te a ti
mesmo é um exemplo vivo da união entre a teoria e a prática. Santo
Agostinho (354-430), o último filósofo antigo e o primeiro moderno,
assinala em sua obra o advento da interioridade do espírito. Blaise
Pascal (1623-1662) inscreve-se nesse histórico, empenhando-se em
mostrar a "miséria do homem sem Deus". Analisa, através de aforismos
e com extraordinária penetração, a duplicidade e as contradições da
"natureza humana", que é "nada em relação ao infinito, tudo em
relação ao nada, uma ponte entre o tudo e nada".
Sören
Kiekegaard (1813-1855) inicia, como vimos,
o moderno existencialismo ao afirmar que a fórmula cartesiana deve ser
invertida: não existo porque penso mas penso porque existo. Karl Jaspers
(1833-1969) insere-se nessa genealogia dizendo que o homem só toma consciência
de si próprio nas situações limites, tais como a morte, o sofrimento, a luta, a
culpa etc. Martin Heidegger (1899) contribui com sua observação de que a
essência consiste em existir, e que o Dasein (ser-aí) é sua possibilidade de
realização. Jean-Paul Sartre (1905-1981) entende por existencialismo uma
doutrina que torna a vida possível e sustenta que a verdade e a ação implicam
uma situação e uma objetividade humana. Gabriel Marcel (1889-1973) desenvolve a
afirmação central de que a existência é inesgotável e, a rigor, inefável ou
inexplicável.
Embora o
existencialismo moderno tenha sido marcado pelo desespero,
pela angústia e pela falta de perspectiva com relação
à vida futura, assim mesmo deu sua contribuição à libertação do homem.
Representando um requisitório em favor do indivíduo e de sua autonomia,
constituiu-se numa ação positiva à defesa do homem contra as forças impessoais
e anônimas que ameaçam absorvê-lo e desfigurá-lo.
Paulo, nas suas
epístolas, já nos dizia que deveríamos ler de tudo e assimilarmos somente o que
fosse útil. Fiquemos, pois, com esses aspectos libertários que o
existencialismo sugere.
Fonte
de Consulta
CORBISIER, R. Enciclopédia
Filosófica. 2. ed., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,
1987.
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