A origem da violência está na
"cultura da violência". A "cultura da violência" — para ter
o êxito que tem — necessita da "ideologia da violência". A ideologia,
que é uma forma de pensar que não condiz com a verdade, fornece os subsídios
teóricos para que a violência tenha uma aparência de racionalidade. Ainda mais:
a violência é a matéria-prima da atualidade. Os meios de comunicação de massa
não estão preocupados com as causas e as razões da violência; o sensacionalismo
tem mais peso, pois atinge diretamente o emocional do ser humano.
A violência e a não-violência passam
pela discussão da relação entre os meios e os fins. O provérbio nos diz:
"Os fins justificam os meios". Eric Weil, filósofo e pensador
francês, defende tal posição. Para ele, o objetivo da existência humana é
conquistar a não-violência. Porém, mesmo tendo esse objetivo em mente, ele
aceita que os meios empregados possam ser violentos. Devemos aceitar
passivamente tal ponto de vista? Não? É preciso que tanto os meios como os fins
sejam não-violentos; se uma das partes for violenta, o todo refletirá tal
comportamento.
A violência pode ser vista nos escritos
de diversos pensadores. Nicolau Maquiavel, em O Príncipe, foi um
dos primeiros a afirmar a necessidade de recorrer à violência para governar a
sociedade dos homens. Para ele, o mal não está na crueldade, mas na crueldade
"mal empregada". Hegel também faz a sua apologia da violência. Para
ele, o "estado de natureza" em que se encontram os homens em meio à
sociedade civil é o "estado de violência". Max Weber, em O
Ofício e a Vocação do Homem Político, ilustra bem a ideologia da violência
no que concerne ao homem público. Para ele, aquele que quiser recusar a
violência deve forçosamente renunciar à ação política.
Gandhi tornou-se mundialmente famoso
pela prática da não-violência. A sua celebridade, contudo, não foi suficiente
para que as pessoas o conhecessem. Apenas associam a não-violência ao seu nome.
Os ocidentais, por exemplo, têm uma postura defensiva, pois acreditam que
Gandhi estava imerso num orientalismo religioso, sem grandes contribuições para
fornecer à filosofia. Gandhi não era filósofo profissional. Ele tinha uma única
preocupação na vida: a procura da verdade. Dizia: "Sem a não-violência,
não é possível procurar e encontrar a verdade".
A não-violência é o princípio
fundamental da filosofia. A filosofia — como modo autônomo de pensar — é um
caminho na busca da verdade. Para que o ser humano se liberte do seu passado e
conquiste o seu futuro, ele necessita da não-violência, seja em que
circunstância for. Possivelmente, ainda há muita luta para vencer a violência
que há dentro de cada um de nós. Contudo, esse esforço não é inútil. É ele que
vai dar à filosofia o instrumental necessário para que a humanidade se torne
senhora desse princípio, o princípio da não-violência.
Viver de acordo com a não-violência não
é tarefa fácil. Os automatismos do ódio e da vingança ainda estão arraigados em
nosso subconsciente. É preciso muita fibra interior para não se deixar levar
pela "cultura da violência" e pela "ideologia da violência",
vigentes no mundo todo
Fonte de Consulta
MULLER, Jean-Marie. O Princípio da Não-Violência. Tradução
de Inês Polegato. São Paulo: Palas Athena, 2007.
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