29 junho 2008

Eficácia: Ocidental e Oriental

A eficácia ocidental teve origem na filosofia grega, que pressupunha o uso intensivo da racionalidade. Parte-se de uma forma ideal (eidos); depois, com o esforço e a vontade procura-se atingir o fim (telos). Para os ocidentais deve haver uma perfeita adequação entre meios e fins. No âmbito da filosofia taoísta, não há esta preocupação; dá-se ênfase ao caminho que se percorre. Eles não partem de uma forma ideal, mas fornecem subsídios para que as coisas atinjam o seu próprio objetivo.

A filosofia ocidental parte de uma teoria, de um projeto. Este projeto pode ser visualizado como um objetivo a ser alcançado. Em cima disto, há enormes investimentos em técnicas, instrumentos e especialistas. Procura-se melhorar os meios, tornando-os mais eficientes, produzindo sempre mais com menos uso de recursos. Na China, eles se atêm ao potencial da situação. Procuram captar, através da meditação e da reflexão serena, o fluxo energético do que está acontecendo e auxiliam o processo a se desenvolver.

Os ocidentais, auxiliados pela retórica grega, fazem do seu discurso um discurso racional e persuasivo. Querem que os outros sejam atingidos diretamente pelo seu verbo, no sentido de fazê-los seguirem uma determinada linha de conduta. Os chineses não se preocupam com a racionalidade. Eles procuram captar o efeito que há de advir de um processo e, sem querer mudar para que as coisas saíam de uma determinada maneira, fornecem subsídios para que o evento atualize a sua própria virtualidade. Os objetivos são os mesmos; o caminho a ser seguido é que difere.

Os ocidentais, quando tratam da guerra, pensam em aniquilar o inimigo. Presentemente, usam armas de longo alcance, inclusive com a tecnologia do laser, que lhes permite atacar o inimigo à noite. Colocam um objetivo e partem para sua execução. A Arte da guerra chinesa é o oposto. Eles não procuram eliminar diretamente o inimigo, mas vão minando as suas fortalezas até que este se vê em desvantagem e confessam-se vencidos, sem que haja luta. De um lado a violência; do outro, a perspicácia, a paciência e a estratégia da eficácia.

O símbolo da água tem grande utilidade para os chineses. Enquanto os ocidentais são científicos, calculistas e rígidos, no sentido de alcançar um fim proposto, os orientais utilizam a imagem da água. Para eles, a água é fluida e, por isso, adapta-se em qualquer recipiente. Do mesmo modo deveria agir o líder. Ele deve, primeiramente, adaptar-se aos outros, sentindo-lhes as suas fraquezas e as suas fortalezas; somente após esse perscrutar do terreno, poderá ordenar com segurança. Nada de forçar as coisas, mas aproveitar o próprio desenrolar dos acontecimentos.

Coloquemo-nos abertamente ao que estiver acontecendo aqui e agora. Sem defesas e sem interferir no processo dos outros, ofereçamos-lhes todos os nossos recursos pessoais, a fim de que o mundo se torne mais humano e fraterno.

Fonte de Consulta

JULLIEN, F. Tratado de Eficácia. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1998.

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