A eficácia ocidental teve origem na filosofia grega, que pressupunha
o uso intensivo da racionalidade. Parte-se de uma forma ideal (eidos);
depois, com o esforço e a vontade procura-se atingir o fim (telos). Para
os ocidentais deve haver uma perfeita adequação entre meios e fins. No âmbito
da filosofia taoísta, não há esta preocupação; dá-se ênfase ao caminho que se
percorre. Eles não partem de uma forma ideal, mas fornecem subsídios para que
as coisas atinjam o seu próprio objetivo.
A filosofia ocidental parte de uma teoria, de um projeto. Este
projeto pode ser visualizado como um objetivo a ser alcançado. Em cima disto,
há enormes investimentos em técnicas, instrumentos e especialistas. Procura-se
melhorar os meios, tornando-os mais eficientes, produzindo sempre mais com
menos uso de recursos. Na China, eles se atêm ao potencial da situação.
Procuram captar, através da meditação e da reflexão serena, o fluxo energético
do que está acontecendo e auxiliam o processo a se desenvolver.
Os ocidentais, auxiliados pela retórica grega, fazem do seu
discurso um discurso racional e persuasivo. Querem que os outros sejam
atingidos diretamente pelo seu verbo, no sentido de fazê-los seguirem uma
determinada linha de conduta. Os chineses não se preocupam com a racionalidade.
Eles procuram captar o efeito que há de advir de um processo e, sem querer
mudar para que as coisas saíam de uma determinada maneira, fornecem subsídios
para que o evento atualize a sua própria virtualidade. Os objetivos são os
mesmos; o caminho a ser seguido é que difere.
Os ocidentais, quando tratam da guerra, pensam em aniquilar o
inimigo. Presentemente, usam armas de longo alcance, inclusive com a tecnologia
do laser, que lhes permite atacar o inimigo à noite. Colocam um objetivo e
partem para sua execução. A Arte da guerra chinesa é o oposto. Eles não procuram
eliminar diretamente o inimigo, mas vão minando as suas fortalezas até que este
se vê em desvantagem e confessam-se vencidos, sem que haja luta. De um lado a
violência; do outro, a perspicácia, a paciência e a estratégia da eficácia.
O símbolo da água tem grande utilidade para os chineses. Enquanto
os ocidentais são científicos, calculistas e rígidos, no sentido de alcançar um
fim proposto, os orientais utilizam a imagem da água. Para eles, a água é
fluida e, por isso, adapta-se em qualquer recipiente. Do mesmo modo deveria
agir o líder. Ele deve, primeiramente, adaptar-se aos outros, sentindo-lhes as
suas fraquezas e as suas fortalezas; somente após esse perscrutar do terreno,
poderá ordenar com segurança. Nada de forçar as coisas, mas aproveitar o
próprio desenrolar dos acontecimentos.
Coloquemo-nos abertamente ao que estiver acontecendo aqui e agora.
Sem defesas e sem interferir no processo dos outros, ofereçamos-lhes todos os
nossos recursos pessoais, a fim de que o mundo se torne mais humano e fraterno.
Fonte de Consulta
JULLIEN, F. Tratado de Eficácia. Tradução de Paulo
Neves. São Paulo: Ed. 34, 1998.
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