29 junho 2008

Crença e Resistência

A maioria dos nossos hábitos e costumes é fruto da cultura e da tradição. Os nossos avós absorveram esses hábitos de seus progenitores e os comunicaram aos nossos pais; os nossos pais, por sua vez, passaram esses costumes a nós; nós, aos nossos filhos; os nossos filhos,... Se alguém, nessa cadeia, coloca em dúvida um desses conhecimentos, respondemos que sempre funcionou assim. Sobre esse mister, há, na gíria futebolista, uma frase célebre: "Time que está ganhando não se mexe". Seguindo esse ritmo, o nosso pensamento se acomoda às coisas. O verdadeiro conhecimento exige uma ruptura desse status quo.

A inovação tem, em primeiro lugar, um caráter assustador. Teme-se perder o status, o emprego e a comodidade. Por isso, toda ideia nova sofre resistência. Em primeiro lugar, porque as pessoas, tão logo recebem a informação, não conseguem  de chofre  absorver o alcance total da proposição. Em segundo lugar, porque o medo acaba maculando o bom entendimento da nova proposta. As pessoas ficam na defensiva e não conseguem ver o lado positivo da mudança.

Cristo, em uma de suas passagens evangélicas, tratou desse problema, o da ideia nova. Ele disse que não tinha vindo trazer paz à Terra, mas a espada, que veio para separar o pai do filho, o filho da nora, e o homem da mulher. Interpretados ao pé da letra, podemos concluir que esses ensinamentos não foram veiculados pelo Mestre. Contudo, o que está por detrás dessas palavras é que a nova ideia, ou seja, os preceitos de sua doutrina, não seriam aceitos sem luta, sem contrariedade e sem discussões.

A mudança é uma proposição sempre bem-vinda. Mas, na hora de a colocarmos em prática? As dificuldades aparecem. Estar aberto ao novo não é tão fácil quanto poderíamos pensar. Quantas já não foram as vezes que propusemos mudar a nossa conduta? E depois? Voltou tudo como era. Dizemos: segunda-feira eu vou começar o meu regime; quando a segunda-feira chega, transferimos o problema para terça-feira, depois para quarta e assim sucessivamente, até chegarmos ao dia do são nunca.

A formação de hábitos salutares exige fortaleza de ânimo. Os novos paradigmas não podem ser uma extensão do passado, porque a continuidade dos costumes nada mais faz do que alimentar os automatismos do cérebro velho. Há necessidade de se romper com a mente velha, inclusive com os automatismos na prática do bem. O espírito tem que estar sempre livre, solto para criar condições de agir criativamente. A repetição apenas acomoda a nossa mente. A evolução do espírito exige movimento, reflexão.

Inovar é estar alerta para o que estiver acontecendo aqui e agora. Observe o computador: ele facilita a vida de muita gente. E quando ele começou a ser implantado? Não sofreu resistência das pessoas e das empresas?


 

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