A ciência cognitiva diz respeito, entre outros
aspectos, à mente e à mentalidade. Como nos dias
que correm, cresce o número de pessoas que acreditam que a sobrevivência do ser
humano neste planeta depende de uma profunda mudança em sua mentalidade,
Humberto Mariotti, médico psicoterapeuta, procura mostrar, em artigo à Revista Eccos,
uma epistemologia diferente da atualmente dominante, no sentido de produzir
mudanças políticas, científicas, filosóficas e práticas cotidianas.
Em sua análise, estabelece alguns pontos de partida: a)
nossa ideia de mundo vem de nossa cognição; b) conhecemos o
mundo segundo nossa estrutura; c) esta estrutura cognitiva implica um
determinado modo de elaborar o que foi percebido; d) os resultados dessa
elaboração orientam nossas ações; e) tais ações têm consequências éticas; f)
logo, para mudá-las, é preciso modificar nossas ideias sobre a cognição, o que,
por sua vez, alteraria a nossa estrutura cognitiva.
Observando o mundo que nos rodeia, ele constata o fenômeno da
McDonaldização da sociedade. O que significa? Condicionamento à pressa, ao
imediatismo, ao desejo da saciedade instantânea e, principalmente, à
padronização dos movimentos e do consumo. Nesse sentido, o indivíduo se
defronta com um mundo pronto, acabado, igual para todos. Esse fato, segundo
Humberto Mariotti, impede o ser humano de pensar, de refletir. Em outras
palavras, a sociedade condicionando-o a uma estrutura globalizante e alienante,
rouba-lhe a estrutura própria. Se pensar diferente é "excêntrico",
"subjetivo", posto à margem da sociedade.
Se o mundo é igual para todos, para que refletir, para que pensar?
Esta é a situação marcante de uma sociedade que prega o consumo de massa,
especialmente, através da mídia televisiva. Manipulando o pensamento, produz
uma sociedade conformada, que simplesmente atende à ordenação do emissor,
aquele que diz o que é e o que não é importante. Observe, por exemplo, o
trabalho dos marqueteiros políticos: eles conseguem transformar a postura de um
candidato, fazendo-o parecer um "salvador da pátria" diante do
público.
Ao nos depararmos com este texto, lembramo-nos de um eminente
filósofo brasileiro, Mário Ferreira dos Santos que, na década de 50,
desenvolveu um método próprio para aprender e ensinar filosofia, contrariando
todos os que o desestimulavam. Dizia que todo o homem deve viver e morrer como
um guerreiro. O ser guerreiro, aqui, é lutar contra o "status quo"
estabelecido, no sentido de primeiro nos alertarmos, e depois todos aqueles que
estiverem ao nosso derredor.
O pensamento de Mariotti, embora com outra roupagem, leva-nos ao
conhece-te a ti mesmo de Sócrates, quando este nos diz que uma vida sem reflexão não merece ser vivida. Neste
artigo, o autor explicita que a "reflexão confere à consciência a dimensão
humana".
Fonte de Consulta
MARIOTTI, Humberto. Cognição, Sociedade e o Novo Autoritarismo: Uma Análise de Algumas
Abordagens Científicas e suas Consequências Éticas. Eccos Revista Científica, São Paulo: Centro Universitário
Nove de Julho, v. 2, n.º 1, p. 27-43, junho de 2000.
Nenhum comentário:
Postar um comentário