27 junho 2008

Astúcia Estóica

astúcia — do grego métis — é uma palavra carregada de contradições, dubiedades, paradoxos e ambiguidades. Esta era a forma como os gregos procuravam transmitir os seus conhecimentos, ou seja, através do mito, da ironia, da contradição, dos volteios. Zenão, o fundador do estoicismo, não fugiu à regra. Para ele, o filósofo-educador estoico tem muito a nos ensinar, especialmente na distinção entre os ditos e feitos socrático-platônicos e os veiculados pela filosofia da Stoa.

Há grande diferença entre a conceituação da métis, dada por Platão, e aquela, ensinada pelo filósofo estoico. Em Platão, por exemplo, há o enfoque político-social, em que a condução do Estado estaria nas mãos dos filósofos, mais preparados para o exercício do poder. Zenão, não aceitava tal proposição; ele preferiu aprofundar o enfoque ético-religioso, pois acreditava ser este o fundamento maior da vida e da vivência do ser humano para o engrandecimento de sua alma.

O seu conceito de Estado e da economia difere da acepção grega. Adepto da "sociedade sem estado", pois acreditava que havendo o Estado haveria sempre os dominadores e os dominados. Por isso, não achava necessário caracterizar a economia, como profano, e a religião, como sagrado, pois tudo faz parte da physis. Em sua Politéia, diz: "Devemos considerar todos os homens ‘démotas’, e que o modo de vida seja uno e a ordem una, como um rebanho que numa pastagem se nutre em conjunto, segundo uma mesma lei".

Um paradoxo: os estoicos afirmavam que a alma é somatós (corpo), como o são a justiça e a virtude. Qual o sentido filosófico que está por detrás dessa ambiguidade? A palavra soma traz um substrato material, ou seja, a solidez. Para o Pórtico, corpo é tudo o que age e padece, e o que age e padece pode ser, também, sólido mas não somente sólido. Em outras palavras, o corpo age, mas não o faz por si mesmo, ele necessita do espírito, o qual intelectualiza a matéria.

A afirmação de que tanto o sábio quanto insensato não precisa de nada ou precisa de tudo, faz-nos também pensar. Em termos absolutos, o insensato não precisa de nada, porque acha que sabe tudo e, por isso, não procura instruir-se; o sábio, como já é conhecedor de tudo, não tem necessidade de conhecimento. Relativamente, tanto um quanto o outro precisa sempre de aprender algo novo, pois cada qual deve se enquadrar na lei natural do progresso.

A reflexão sobre a astúcia estoica é providencial. Ela mostra que o ser humano pode sempre avançar no conhecimento, porque tem cada vez mais possibilidade de estruturar o novo.

Fonte de Consulta

GAZOLA. Rachel. O Ofício do Filósofo Estoico: O Duplo Registro do Discurso da Stoa. São Paulo: Loyola, 1999. (Leituras Filosóficas)


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