Diógenes de Laércio diz que Aristipo
era um ser humano que procurava se adaptar a tudo (tempo, pessoas e
circunstâncias), nem que para isso fosse necessário mentir. Aristipo,
respondendo à pergunta "qual a vantagem dos filósofos?", diz:
"Se as leis desaparecerem, nossa vida em nada mudaria". Horácio, por
sua vez, lembra-o como um exercitador do domínio de si: "Volto aos
princípios de Aristipo e tento submeter-me às coisas em vez de elas me
submeterem". Em outras palavras, devemos aceitar as coisas como elas
advém.
Tanto para Aristipo como para
os estoicos, ser histórico é interpretar papéis. Interpretar papéis
liga-se ao conceito de ator. Lembremo-nos da metáfora do ator evocada por
Epicteto, no Enchiridion (Manual) e nas Diatribaì:
"Lembra-te de que és ator de um drama que o autor assim quer: curto, se
ele é curto: longo se ele é longo. Se é um papel de mendigo que ele quer para
ti, mesmo este interpreta-o com talento... Pois tua tarefa é a de interpretar
corretamente o personagem que te foi confiado; quanto a escolhê-lo, é fato de
outro..."
Alguns trechos da vida de Zenão e de
outros estoicos demonstram que a aparência estoica é,
também ela, uma forma de ensinar a doutrina. Na carta que o rei da
Macedônia, Antígonas Gônatos, endereça a Zenão em sua velhice, ele pede o
ensino do filósofo, não só para si, mas para todos os macedônios, pois um rei
virtuoso é, também, ter um povo virtuoso. Ele conclama Zenão a relacionar-se
consigo: "Penso ser superior a ti em fortuna e reputação, mas que te sou
inferior em inteligência, em saber, em felicidade, essa felicidade perfeita que
tu possuis..."
Diógenes Laércio observa que Zenão
"Era muito acomodado... Evitava grandes afluências. Nunca passeava com
mais de duas ou três pessoas... Quando repreendia alguém, não o fazia
francamente nem completamente, mas por longínqua alusão... Ele ultrapassava a
todos tanto pelo aspecto como pela dignidade, e, por Zeus, por sua felicidade.
Viveu até os 98 anos sem doença. Eis o epigrama do Ateneu sobre todos
os estoicos, em geral: ó vós, sábios nas palavras estoicas, vós que
colocastes sobre as páginas sagradas pensamentos tão belos, que a virtude
da alma é o único bem. Ela, só ela, conserva a vida humana e as
cidades..."
Entende-se, assim, porque certos filósofos
deixaram marcas profundas na história. Platão deixou o "amor
platônico". Os cínicos também nos deixaram o adjetivo "cínico"
devido a uma intrigante inversão interpretativa, difícil de detectar e extensa
para explicar, e sobre a qual se deve refletir.
Os estoicos nos legaram, por seu aspecto exterior e hábitos de
vida sem fausto, frequentemente noticiados, a qualidade de força de caráter e a
aceitação do sofrimento.
Por tudo isso, reverenciemos os
clássicos do pensamento. Eles não mediram esforços para legar à Humanidade
essas verdades imorredouras.
Fonte de Consulta
GAZOLA. Rachel. O Ofício do
Filósofo Estoico: O Duplo Registro do Discurso da Stoa. São Paulo: Loyola,
1999. (Leituras Filosóficas)
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