Na antiguidade clássica grega, a arte e
a dramaturgia tinham por objetivo a sublimação, a modificação, a
transmutação dos sentimentos humanos. Através das encenações, o indivíduo,
utilizando-se de uma máscara (persona), procurava estimular as ações que
culminavam na melhoria interior. A expressão corporal combatia as más
tendências e enaltecia aquelas outras voltadas para o bem, o belo e o poético.
Atualmente, a arte e a dramaturgia televisiva têm por objetivo a
produção de emoções fracas, superficiais. Não se intenta para o profundo do ser
humano, senão como fator inibidor do pensamento criativo. A pessoa coloca-se
defronte da telinha e tem tudo pronto à sua vista; basta apenas consumir
passivamente. A catarse, a terapia profunda e lenta produzida pela obra de
arte, é substituída pelo divertimento banal e inconsequente, contrário do que
víamos na antiguidade. Por isso, fala-se de produção de lixo intelectual, e
aquele que fica o dia todo diante de uma televisão acaba contraindo a preguiça
de pensar.
Diante desse quadro, convém distinguir o conhecimento da
compreensão. O conhecimento é aquilo que está na memória, nas palavras, nos
conceitos. A compreensão vai além, pois ela não precisa de palavras para se
expressar. Nesse sentido, pode-se encontrar um senso maior de compreensão no
homem simples do que naquele que frequentou uma Universidade. Esta
simplesmente aumentou-lhe os conhecimentos técnicos, relativos a uma profissão.
Isto não quer dizer que o tornou melhor, mais compreensivo, mais paciente e
mais amante da humanidade.
Para Huxley "o conhecimento é adquirido quando se obtém uma
nova experiência. A compreensão ocorre quando nos libertamos do velho e
tornamos possível o contato direto e imediato com o novo, com o mistério,
momento a momento, em nossa existência". É paradoxal que o homem
primitivo, a certa altura de sua evolução, opta por desenvolver exclusivamente
o pensamento conceitual, deixando atrofiar o percebimento imediato da
realidade. Dando nome às coisas, colecionando conceitos sobre elas, o homem
deixou de vê-las como realmente são. Daí o sofrimento, a tortura do dualismo,
os conflitos.
Para ouvir bem necessário se faz educar a atenção. Não é
forçando-a que conseguiremos nos concentrar numa determinada matéria. Nós só
podemos fazê-lo através do interesse. O interesse, pelo seu lado, pode gerar o
medo ou o amor. O medo faz-nos buscar uma técnica para evitá-lo. O amor é a
pedra de toque, a chama de nossa liberdade. É por ele que a humanidade fará a
sua ascensão espiritual, pois Jesus nos deixou a rota do amor, quando disse:
"amai-vos uns aos outros como eu vos amei".
Assim, para uma compreensão global e total das coisas, basta
amarmos verdadeiramente e não por palavras. Os nossos atos contam mais, pois
eles denotam a nossa compreensão diante de uma dada situação.
Fonte de Consulta
LISBOA, Luís Carlos. Olho de Ver Ouvidos de Ouvir. Rio de Janeiro: Difel, 1977.
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