27 junho 2008

Conhecimento e Compreensão

Na antiguidade clássica grega, a arte e a dramaturgia tinham por objetivo a sublimação, a modificação, a transmutação dos sentimentos humanos. Através das encenações, o indivíduo, utilizando-se de uma máscara (persona), procurava estimular as ações que culminavam na melhoria interior. A expressão corporal combatia as más tendências e enaltecia aquelas outras voltadas para o bem, o belo e o poético.

Atualmente, a arte e a dramaturgia televisiva têm por objetivo a produção de emoções fracas, superficiais. Não se intenta para o profundo do ser humano, senão como fator inibidor do pensamento criativo. A pessoa coloca-se defronte da telinha e tem tudo pronto à sua vista; basta apenas consumir passivamente. A catarse, a terapia profunda e lenta produzida pela obra de arte, é substituída pelo divertimento banal e inconsequente, contrário do que víamos na antiguidade. Por isso, fala-se de produção de lixo intelectual, e aquele que fica o dia todo diante de uma televisão acaba contraindo a preguiça de pensar.

Diante desse quadro, convém distinguir o conhecimento da compreensão. O conhecimento é aquilo que está na memória, nas palavras, nos conceitos. A compreensão vai além, pois ela não precisa de palavras para se expressar. Nesse sentido, pode-se encontrar um senso maior de compreensão no homem simples do que naquele que frequentou uma Universidade. Esta simplesmente aumentou-lhe os conhecimentos técnicos, relativos a uma profissão. Isto não quer dizer que o tornou melhor, mais compreensivo, mais paciente e mais amante da humanidade.

Para Huxley "o conhecimento é adquirido quando se obtém uma nova experiência. A compreensão ocorre quando nos libertamos do velho e tornamos possível o contato direto e imediato com o novo, com o mistério, momento a momento, em nossa existência". É paradoxal que o homem primitivo, a certa altura de sua evolução, opta por desenvolver exclusivamente o pensamento conceitual, deixando atrofiar o percebimento imediato da realidade. Dando nome às coisas, colecionando conceitos sobre elas, o homem deixou de vê-las como realmente são. Daí o sofrimento, a tortura do dualismo, os conflitos.

Para ouvir bem necessário se faz educar a atenção. Não é forçando-a que conseguiremos nos concentrar numa determinada matéria. Nós só podemos fazê-lo através do interesse. O interesse, pelo seu lado, pode gerar o medo ou o amor. O medo faz-nos buscar uma técnica para evitá-lo. O amor é a pedra de toque, a chama de nossa liberdade. É por ele que a humanidade fará a sua ascensão espiritual, pois Jesus nos deixou a rota do amor, quando disse: "amai-vos uns aos outros como eu vos amei".

Assim, para uma compreensão global e total das coisas, basta amarmos verdadeiramente e não por palavras. Os nossos atos contam mais, pois eles denotam a nossa compreensão diante de uma dada situação.

Fonte de Consulta

LISBOA, Luís Carlos. Olho de Ver Ouvidos de Ouvir. Rio de Janeiro: Difel, 1977.

 

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