Desde que o homem teve de viver em
conjunto com outros homens, as normas de comportamento moral têm sido
necessárias para o bem estar do grupo. Muitas destas normas eram extraídas das
religiões existentes, que cheias de dogmas e tabus impunham uma dose de irracionalidade
ao valor moral. Mesmo entre os chineses, que não possuíam uma religião
organizada, havia muitas normas esotéricas de comportamento ético.
A especulação exotérica começa somente
com o pensamento grego. Sócrates, Platão e Aristóteles são os seus principais
representantes. Sócrates dizia que a virtude é conhecimento; e o vício, é o
resultado da ignorância. Então, de acordo com Sócrates, somente a educação pode
tornar o homem moralizado. Platão estabelece que a vida ética é gradativamente
mais elevada pela adequação desta às ideias (eide) superiores, análogas
à forma do bem. Aristóteles deu à ética bases seguras. Dizia que o fim do homem
é a felicidade temporal da vida de conformidade com a razão, e que a virtude é
o caminho dessa felicidade, e esta implica, fundamentalmente, a liberdade.
Na Idade Média, os valores éticos são
condicionados pela religião cristã, especificamente o Catolicismo. A Patrística
e a Escolástica são os seus representantes. Nesse período, dá-se ênfase à
revelação dos livros sagrados. O Pai, o Filho e o Espírito Santo determinam as
normas de conduta. Jesus, que é filho e Deus ao mesmo tempo, torna-se o grande
arauto de uma nova ética, a ética do amor ao próximo. Porém, essa ética é
conspurcada pelos juízos de valores de seus representantes, que distorcem a
pureza do cristianismo primitivo.
As exortações católicas mantiveram-se
por longos anos. Contudo, no século XVI começou a sofrer a pressão do
Protestantismo, ou seja, a reação de algumas Igrejas às determinações da Igreja
de Roma. Para os protestantes, a ética não é baseada na revelação, mas nos
valores éticos, examinados e procurados de per si. A revelação religiosa
pertence à religião. O filósofo ético deve procurar os fundamentos ontológicos
dessa disciplina, tão longe quanto lhe seja possível alcançar.
Kant, o quebra tudo, surge nesse
contexto. Para Kant a Ética é autônoma e não heterônoma, isto é, a lei é ditada
pela própria consciência moral e não por qualquer instância alheia ao Eu. Como
vemos, Kant dá prosseguimento à construção da própria moral. Não espera algo de
fora. Aquilo que o homem procura está dentro dele mesmo. Muitos são os
filósofos que seguiram Kant. Depois destes, surgem Scheller (1874-1928),
Müller, Ortega y Gasset etc., que penetram na ética axiológica, ou seja, estuda
a ética do ângulo dos valores.
A Ética é especulação dos valores. Não
resta dúvida que esse escorço histórico muito nos auxiliará numa melhor
compreensão da moral e dos sentidos nela incorporados.
Fonte de Consulta
SANTOS, M. F. dos. Dicionário
de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.
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