O ponto de partida para a escolha de
temas filosóficos deve estar centrado na acepção de Descartes, que no Discurso
do Método, afirma não existir uma só matéria dentro de sua esfera que
não esteja seguindo em discussão. Quer dizer, para os grandes problemas da vida
haverá sempre muitas opiniões e muitos pareceres, ou seja, devemos estar
abertos para a crítica e a contradição.
O ato da escolha pressupõe uma questão:
por onde começar? O que se deve ler em primeiro lugar? J. O. Urmson, na
sua Enciclopédia Concisa de Filosofia e Filósofos, enumera alguns
livros para os iniciantes em filosofia: Diálogos entre Hila e
Filon, de Berkeley; O Discurso do Método, de
Descartes; Ensaio sobre o Entendimento Humano, de Hume; A
República, de Platão; O Utilitarismo, de Mill; Os
Problemas da Filosofia, de Russel. Insiste, ainda, que devemos ler
todos eles com o espírito crítico.
A qualidade deve prevalecer sobre a
quantidade, embora toda a escolha tenha os seus inconvenientes, porque muitos
temas ficarão fora da seleção. Porém, se não corrermos esse risco nada
produziremos de valor, visto que a compreensão de um assunto requer doses
maciças de aprofundamento. É precisamente aí que reside a atitude filosófica,
ou seja, saber distinguir entre o útil e o inútil. De qualquer forma, o mais
importante é estar inteiro no tema que for escolhido.
Foi o que fez Urmson no livro acima
citado. Sendo o seu objetivo resgatar o alcance da filosofia ocidental, deixou
de lado as filosofias que tratam especificamente dos "aspectos práticos da
vida", principalmente as filosofias orientais. Isso não quer dizer que
esses assuntos não tenham valor. Talvez sejam até mais importantes do que os
aspectos teóricos, mas, uma vez feita a escolha, deve-se seguir e deixar para
os outros o estudo de tais temas.
Em filosofia, como em qualquer ciência,
não existe um ponto final. Há sempre novos enfoques, novos relacionamentos,
novos pontos de vista. Cabe-nos, sim, consultar os filósofos e cientistas que
são mais claros e objetivos, a fim de ampliarmos o estoque do nosso
conhecimento. Contudo, não devemos fiar na autoridade deste ou daquele, pois os
grandes problemas da humanidade são mais frutos de opinião do que de verdade.
Busquemos o perfeito entendimento da
vida e do relacionamento com o próximo. Se não conseguimos ainda absorver
certos temas como gostaríamos, deixemos a cargo do tempo que tudo resolve e
tudo aclara.
Fonte de Consulta
URMSON, J. O. Enciclopedia
Concisa de Filosofía y filósofos. 2. ed., Madrid, Catedra, 1975.
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