A distinção entre filosofia, ciência e
religião é um dos temas que mais dão margem a polêmicas, aparentemente
infindáveis. Não conseguimos perceber que os termos estão interligados e, por
isso, não somos capazes de analisar qualquer assunto sob estes três ângulos.
Pode-se começar por um arroubo da fé; depois, adere-se às lucubrações da
filosofia; finalmente, tenta-se provar que aquilo que estamos idealizando tem
base sólida. Se uma pessoa se cristaliza num dos vértices deste triângulo,
acaba por deformar a sua visão de mundo.
A ciência moderna, como a conhecemos
presentemente, tem sua origem nas especulações feitas, em meados do século XVI,
pelo cônego polonês Nicolau Copérnico, o qual colocava o Sol no centro do
Universo. Um dos pontos culminantes das disputas entre religião — representada
pela Igreja Católica — e ciência — representada pelo projeto de
física-matemática —, ocorreu com a condenação em 1633 do astrônomo, matemático
e filósofo natural Galileu Galilei.
A condenação de Galilei, feita pela
Igreja, é compreendida por muitos como um atentado à liberdade de pensamento. O
que pouco se comenta é que Galileu era um católico fervoroso, que temia
desobedecer às regras da Igreja. Na realidade, ele queria encontrar um elo entre ciência e religião, sem que houvesse perdas para ambas. Seu lema
era: "a fé ensina como ir para o céu; a ciência como vai o céu".
Talvez tenha sido o fato de nunca ter procurado desobedecer à Igreja Católica
que levou Galilei a aceitar — ao menos para o mundo externo — a pena de prisão
domiciliar perpétua.
O Iluminismo francês, movimento
político-intelectual muito forte e presente em toda a Europa durante a segunda
metade do século XVIII, foi um dos responsáveis por essa interpretação da
condenação de Galileu. Para defender a tese de que o ser humano é capaz de
descobrir as verdades do mundo externo, sem precisar recorrer a Deus, o
iluminismo se apoia no episódio de Galileu, no sentido de mostrar que a palavra
teologia (ou religião) é sinônima de atraso. A supremacia da razão, em
detrimento da fé e da filosofia, inverte os valores humanos. Consequência: o
mundo se torna materialista.
Onde está a verdade? Na fé? Na ciência?
Na filosofia? A verdade não se encontra em nenhum lugar específico: ela está em
toda a parte. Se o homem percebesse que as leis naturais, criadas por ele, nada
mais são do que representações do vasto mundo real, ele procuraria conter os
seus desmandos intelectuais. Temos necessidade da coexistência entre filosofia,
ciência e religião. São as três vertentes essenciais do conhecimento humano.
Somente elas poderão nos proporcionar o perfeito equilíbrio de nossas ações.
Por mais que a ciência dê a sua
contribuição, ela sozinha será sempre um conhecimento parcial, tal qual um
corte na realidade. Para vê-la totalmente, devemos adicionar a intuição trazida
pela fé e a lógica trazida pela filosofia.
Fonte de Consulta
STOEGER, William R. As Leis da
Natureza: Conhecimento Humano e Ação Divina. Tradução de Bárbara Theoto
Lambert. São Paulo: Paulinas, 2002. (Coleção Religião e Cultura).
Nenhum comentário:
Postar um comentário