O cartesianismo —
proveniente de Descartes — é considerado, por muitos historiadores da
filosofia, como a passagem da filosofia do renascimento à moderna. Descartes,
em seu Discurso do Método, enfatiza as duas armas necessárias à
concretização do seu programa de conhecimento: liberdade do arbítrio e
a disciplina consciente a que deve livremente se submeter para conhecer segundo
a razão. Ao lado desses dois, acrescenta um terceiro: Deve haver uma razão em
nós e no mundo, sem o que não seria possível nem proveitoso dispor de nossa
liberdade e de nossa disciplina para conhecer.
A filosofia de Descartes foi
desenvolvida fora da universidade. Por isso, suas críticas ferrenhas aos
postulados escolásticos, ligados à tradição. Começou com correspondências, que
enviava a vários pensadores da época. Somente depois, transformou essas
discussões num tratado. Além do mais, o Discurso do Método foi
escrito originariamente em francês, contrariando o hábito da época, que era o
de escrever textos filosóficos e científicos em latim.
Descartes se propõe buscar a solução a
partir do problema. Desejava encontrar, por si mesmo, uma solução evidente que
permitia reorganizar nossos juízos e separar neles o falso do verdadeiro.
Dizia: "Na menor dúvida tome algo por falso";
"prefira errar dizendo que uma coisa é falsa a errar dizendo que ela é
verdadeira". Daí, as suas quatro célebres regras, cujo objetivo era
auxiliar a resolução de qualquer problema, porque as regras tinham um caráter
geral e não técnico.
Em suas regras, chama-nos a atenção
sobre a precipitação e a prevenção, dois graves
erros que cometemos na busca do conhecimento. A precipitação é a tendência de
julgar mais rápido do que o recomendável; a prevenção, a tendência a evitar a
responsabilidade de um juízo, seguindo uma opinião pré-fabricada. Toma, assim,
a resolução de se desfazer de todas as opiniões que recebera até então.
Faz tábua rasa e começa o seu labor para conhecer a verdade
das coisas.
Em suas lucubrações filosóficas, diz
que o pior precipitado não é aquele que erra dizendo "isso é falso";
é o que erra dizendo "isso é verdadeiro". Afirma que há apenas um
instrumento para resgatar as verdades que porventura tenham sido rejeitadas
inicialmente: são as evidências. Em seu modo de ver as coisas,
achava que somos livres para aceitar o falso, para errar. Podemos, ainda, impor
os nossos erros aos outros, bastando termos força ou engenho suficientes para
isso.
Uma análise detalhada de cada regra do
seu Discurso do Método auxiliar-nos-á a melhorar a nossa
maneira de pensar e de buscar, por nós mesmos, o conhecimento que necessitamos.
Fonte de Consulta
VIEIRA, Paulo Neto. Descartes e
o Método da Filosofia. In FIGUEIREDO, Vinicius de (Org.). Seis
Filósofos em Sala de Aula. São Paulo: Berlendis & Vertechia, 2006.
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