A expressão filosófica nada mais é do que a
comunicação das ideias e pensamentos dos filósofos. Um determinado pensador tem
os seus insights: anota o ocorrido, elabora um texto e torna-o
público para que outras pessoas possam tomar conhecimento. Não deve fazê-lo nem
por orgulho e nem por vaidade, mas sim por um sentimento de solidariedade para
com os demais seres humanos. É sobejamente sabido que devemos dar de graça o
que de graça recebermos.
Como surgem as ideias? Como se formam os pensamentos?
Primeiramente, há uma captação mental. Tem-se a impressão de que as ideias
jorram do cosmo, do universo, do alto. Muitas vezes é a resposta a uma dúvida,
a um temor ou a uma necessidade vital e peremptória. A dificuldade começa
quando essas ideias têm que ser transformadas em palavras, pois o filósofo nem
sempre tem à sua frente um termo adequado para exprimi-las. Por essas e outras
razões, a linguagem filosófica acaba se tornando abstrusa, confusa.
O filósofo é eminentemente teórico. Por isso a frase homo teoreticus. Ele não está preocupado com a prática.
Quer captar, através da contemplação, a verdade dos fatos, tornando-se assim
incompreensível aos seus semelhantes. Sobre esta questão, há uma interessante
observação de Platão: "Enquanto observava as estrelas, olhando para o
alto, Tales caiu em um poço. Presenciando o acontecido, uma espirituosa serva
trácia diz-lhe gracejos: ele queria saber o que havia céu, mas permanecia-lhe
oculto o que estava diante dele e a seus pés".
As críticas literárias ao discurso filosófico são muitas vezes
injustas. O literato escreve com facilidade os seus longos pensamentos a
respeito de um determinado assunto. O filósofo, por sua vez, ao se aprofundar
num tema de sua predileção, quer ser rigoroso não só nas palavras como também
no raciocínio. Como sua função não é contar histórias nem transmitir
informações, acaba por tornar o texto de difícil compreensão. Isso, contudo,
não invalida a verdade que está perscrutando.
Dialeticamente considerado, o mais abstrato leva ao mais concreto.
Por que? Por elevar-se do concreto ao abstrato, acerca-se ainda mais da
verdade, com maior profundidade e exatidão, pois reflete a realidade objetiva
não já na sua aparência sensível, mas nas suas relações internas, na sua
estrutura. Observe que quando estamos exercitando os nossos pensamentos,
estamos, na realidade, exercitando as nossas mãos. O pensamento tem
intrinsecamente a sua prática.
Expressemo-nos tais quais somos. Por que temer a crítica? Tal como
é necessário que uma árvore dê frutos, é necessário que criemos pensamentos.
Que nos importa se serão agradáveis ou não?
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