O problema do ponto de partida
do filosofar reveste-se de vários e distintos matizes. Primeiramente,
há que se considerar o "assombro", a "surpresa" e o
"desespero" que incitam o homem a filosofar. Posteriormente, deve-se
estabelecer a prioridade lógica para que se tenha a rigorosidade dos seus conceitos.
Alguns filósofos buscam uma verdade absolutamente certa; outros falam de uma
primeira realidade que sirva de base para tudo o mais. Porém, sempre que
estabelecemos uma origem, indagamos de uma origem anterior, de modo que o
perguntar não tem fim. Por isso, uma reflexão sobre a experiência
humana facilita a nossa compreensão do filosofar. Empenhemo-nos, pois,
em estudá-la.
A experiência humana é
considerada por alguns filósofos como o principal ponto de partida do
verdadeiro filosofar. Ela não deve ser confundida com a experiência científica,
em que se estabelecem hipóteses para serem comprovados empiricamente. A
experiência humana constitui a realidade, fato básico do qual todos os outros
fatos decorrem. Refere-se, primordialmente, à pessoa que tenha vivido muitos,
variados e intensos estados psíquicos. Em síntese, ela fundamenta a totalidade
do ser.
A experiência humana diz respeito ao
"eu", ao "outro", ao "nós" e ao mundo. O eu não pode ser analisado
isoladamente, pois sempre está relacionado com o objeto. Observe o erro tanto
do idealismo quanto do materialismo ao pretenderem reduzir o ponto de partida
do filosofar a uma única realidade. O eu quando se expressa,
expressa-se através de um juízo de valor: o pensado ao pensar, o desejado ao
desejar, o percebido ao perceber. O cogito pressupõe um cogitatum.
É somente pela síntese das concepções idealista, materialista e religiosa que
podemos formar uma visão global da realidade que nos absorve.
Experiência pressupõe
"resistência". Todo o objeto que
quer ser apreendido mostra a sua resistência. Nesse sentido, a
"resistência" é proporcional ao impacto que o sujeito exerce sobre o
objeto. Por isso, nenhuma ideia nova é aceita com tranquilidade.
Ela precisa aclimatar-se nos corações daqueles que estão ligados a essa
vivência conjunta. Observe a vida dos grandes homens: tiveram que rasgar
horizontes através de toda a sorte de dificuldades. Assim, ao sermos
incompreendidos, mesmo com a melhor de nossas intenções, não nos desanimemos,
porque está ampliando-se a nossa visão de mundo.
A experiência deve ser concebida no
tempo. O que fazemos nesse instante é consequência do que fizemos no passado e
daquilo que intencionamos fazer no futuro. A calma nos grandes momentos de
dificuldade e de tribulação é o resultado dos pequenos esforços feitos no
passado. O acaso não existe: cada um é construtor do seu próprio destino. O
importante é aprendermos a nos limitar dentro das circunstâncias que estamos
inseridos.
Recebamos com naturalidade tanto a
crítica como o elogio. A diversidade dos pareceres alheios não pode desviar-nos
dos projetos existenciais que, conscientemente, traçamos para nós mesmos.
Fonte de Consulta
FRONDIZI, R. El Punto de
Partida del Filosofar. Buenos Aires, Editorial Losada, 1945.
Nenhum comentário:
Postar um comentário