Filosofia do Espírito é uma disciplina filosófica que trata dos
fenômenos mentais, ou seja, dos fenômenos que envolvem exclusivamente seres
capazes de consciência. A Filosofia do Espírito entrelaça-se com outras áreas
da Filosofia. Por exemplo, quando
a filosofia das artes trata de experiências estéticas,
a da teoria do conhecimento de experiência sensorial, a da
religião de experiências místicas, todas encontram-se com a
Filosofia do Espírito. A Filosofia do Espírito, que é hoje frequentemente
chamada de psicologia filosófica, relaciona-se também com a Psicologia (ciência
empírica). Quer dizer, enquanto a primeira trata da análise dos conceitos da
consciência e de fenômenos mentais específicos, a segunda procura estudar
empiricamente os fenômenos a que se referem tais conceitos de preferência à
investigação conceptual de tais conceitos.
A Filosofia do Espírito foge da divisão
tripartida, a qual classifica os fenômenos mentais em cognição, afeição
e volição. Suas contribuições mais importantes têm dado ênfase à descoberta
das diferenças entre os fenômenos que até aqui tem sido considerados como
pertencentes à mesma espécie. Observe que o prazer e a dor são
frequentemente considerados como extremidades opostas de uma única dimensão de
sensação que só se distinguem pela gradação. Já os filósofos contemporâneos,
tendo à frente Gilbert Ryle, chamaram a atenção para o fato de que enquanto a
palavra "dor" é o nome dado a uma sensação do corpo, o
"prazer" já não é o nome de uma sensação. É que a dor é local,
enquanto o prazer não o é.
O problema da autoconsciência do homem
já vem de longa data. Desde Sócrates com o conhecimento de si mesmo, passando
pelos psicólogos com a autoanálise, estamos sempre preocupados com a volta do
ser para sobre si mesmo. Se quiséssemos resumir esses dois mil e quinhentos
anos, veríamos que todos estudos da consciencização se enquadram nos relatos da
1ª pessoa, que resulta das coisas que se passam conosco e o relato na 3ª pessoa
ou coisas que se passam com os outros.
A consciência, como vimos acima,
implica estudá-la sob a ótica da 3ª e da 1ª pessoa. Analisando-a na 3ª pessoa,
notamos que ela leva em conta o que o outro sente ou diz sentir; na 1ª pessoa,
é o próprio ser que a exprime. Assim, quando eu sinto dor, é um estado
íntimo, mas quando o outro diz que a sente é um comportamento.
Quer dizer, a dor para nós é real, enquanto para o outro é apenas uma impressão
daquilo que estamos lhe contando. Por isso, a dificuldade de olharmos os outros
pelo nosso prisma pessoal. Será que a dor que ele sente é a mesma que eu estou
supondo que ele está sentindo?
A Filosofia do Espírito trata também da
ação. Poderíamos perguntar: o que leva uma pessoa a mover uma peça no jogo de
xadrez? É substancialmente o conhecimento das regras desse jogo. Então, de
acordo com as regras, a minha ação envolve três assertivas: boa, má ou
indiferente. Será boa quando contribuir para eu vencer o adversário; má, quando
eu permitir que ele me vença; indiferente, quando se move uma peça por mover.
Do mesmo modo são os nossos atos com relação ao semelhante. Podemos fazer-lhe o
bem, o mal ou sermos indiferentes.
A Filosofia do Espírito é uma filosofia
do consciente. Não resta dúvida que para a exercitarmos fielmente, devemos ser
cada vez mais conscientes de nós mesmos.
Fonte de Consulta
SHAFFER, J. A. Filosofia do
Espírito. Rio de Janeiro, Zahar, 1970.
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