O termo ideologia foi criado por Destut de Tracy, em seu livro Ideólogie, de 1801, para designar “A análise das sensações e das
ideias”, segundo o modelo de Condillac. Floresceu na primeira metade do século
XIX e marca a transição do empirismo iluminista para o espiritualismo
tradicionalista. O sentido depreciativo surgiu em virtude das hostilidades
entre alguns ideologistas franceses e Napoleão. Este os identificou como
“sectários” ou “dogmáticos”, pessoas carecedoras de senso político e, em geral,
sem contato com a realidade.
A partir de fins de 1800, começa a surgir o significado moderno da ideologia. Quer se mostrar que uma análise filosófica é destituída de
validade objetiva, mas mantida pelos interesses de quem as professa. Pareto,
por exemplo, afirma que a ideologia corresponde à noção de teoria
não-científica, entendendo-a como qualquer teoria que não fosse
lógico-experimental. Acha ele que uma teoria científica não tem o objetivo de
persuadir, mas de ser objetiva, ou seja, de retratar o que a coisa é e não o que deve ser.
A persuasão, a utopia e a lógica se entrelaçam na distinção entre ciência e
ideologia. A persuasão visa ganhar adeptos para uma dada causa, quer seja
justa ou não. A utopia procura vislumbrar um cenário futuro,
destituído de cunho científico. A lógica fornece as leis ideais do bem pensar. A
ciência pertence ao campo da observação e do raciocínio; a ideologia ao campo
do sentimento e da fé. Desta forma, torna-se impossível conciliar a verdade com
a persuasão.
Em geral, a ideologia é toda crença usada para controle dos comportamentos coletivos. A crença aqui é usada como sinônimo de
compromisso de conduta, que pode ter ou não validade objetiva. O que transforma
uma crença em ideologia não é a sua validade ou falta de validade, mas
unicamente sua capacidade de controlar comportamentos em determinadas
situações. Para tanto, as repetições de estímulos através dos slogans, como acontece nas campanhas políticas, pode ser muito
utilizado pelos ideólogos.
Em meados do século XIX, a ideologia passou a ser fundamental no
marxismo, sendo um dos postulados básicos na sua teoria sobre a luta de
classes. Em a Sagrada Família (1845) e a Miséria da Filosofia (1847), Marx afirma que as crenças
religiosas, filosóficas, políticas e morais dependiam das relações dos meios de
produção, principalmente do fator trabalho. Esta é a tese central encontrada no
materialismo histórico, desenvolvido por Marx e Engels no livro O Capital, cujo primeiro volume surgiu em 1867.
Presentemente, por ideologia entende-se o conjunto dessas crenças, sempre
no sentido depreciativo e não mais como “a análise das sensações e das ideias”.
Fonte de Consulta
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
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