Os números governam o mundo. Eles podem ser vistos pelo valor
numérico, ou seja, um, dois, três, quatro etc. ou pelo valor simbólico, usado
muitas vezes pela religião. Façamos algumas anotações sobre os números: zero,
um, dois, três e quatro.
O zero. O zero indica a nulidade, a
ausência de entidade. Contudo, essa nulidade é rica de possibilidades e de
promessas. A noção do "nada" preocupou muitos filósofos. Para Hegel,
"A identidade do ser e do não ser é a mola que impele todo o movimento
dialético". Para Jasper, "O nada, na medida em que é experimentado, é
uma cifra do ser". Ainda: No Absoluto, o Grande Todo se
confunde com o Grande Nada porque nele nada é diferenciado.
O um. Segundo Littré, a definição do
"número" é: "A unidade, uma série de unidades, as partes da
unidade". A unidade assinala a individualidade, a particularidade, a
distinção de uma entidade. Leibniz, por exemplo, afirmava que o um era
a mônada — o absoluto é Deus. A busca da unidade que vigorava na antiguidade,
principalmente na filosofia taoísta, inspirou muito os filósofos, os psicólogos
e os cientistas da nossa época.
O dois. A existência procede do zero e do um. O um se
deduziu do zero. O um e o zero constituem a primeira dualidade, ou seja, eles
são dois. Com o dois surge a diferenciação, a dialética. Observe o
dualismo: dia e noite; calor e frio; seco e molhado; positivo e negativo.
Lembremo-nos também dos adágios franceses: nenhuma rosa sem espinhos; nenhuma
virtude sem cansaço; nenhum vício sem suplício; nenhum prazer sem desgosto;
nenhum verso sem reverso.
O três. Levado ao extremo, o pensamento binário chega
ao paradoxo como no maniqueísmo, em que o princípio do bem se opõe ao princípio
do mal. Hegel aproveitou esse paradoxo e edificou a sua dialética do
pensamento. Para ele, tudo começa por uma tese (um). Da tese
aparece a antítese (dois). O resultado desse antagonismo é
a síntese (três). As religiões, de um modo geral,
atribuíram um tríplice aspecto à divindade. Observe: Osíris, Ísis e Hórus, do
Egito; o Pai, o Filho e o Espírito, no cristianismo; Sol, Lua e Terra nas
religiões naturalistas.
O quatro. O quatro se deduz do 2 e do
3. Na Antiguidade, os quatro elementos básicos: fogo, ar, água e terra.
Simbolicamente, pode-se dizer que o Fogo é o espírito, o Ar é
a alma, a Água é o intelecto e a Terra é o
corpo. Observe, também, o quaternário de alguns sistemas filosófico-religiosos:
SABER, QUERER, OUSAR, CALAR.
Fonte de Consulta
CHABOCHE, François-Xavier. Vida e Mistério dos Números.
Tradução de Luiz Carlos Teixeira de Freitas. São Paulo: Hemus, s.d.p.
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