O fato é algo que se nos apresenta. Está à nossa
frente e não o podemos negar. Se o dia amanhece chuvoso, não podemos dizer que
ele está ensolarado, porque haveria uma contradição entre a observação e as
palavras usadas para descrevê-lo. Há, contudo, fatos e fatos, e nem sempre eles
aparecem tão claros quanto ao exemplo citado. Por isso, dizemos que o fato é
objetivo e sua interpretação subjetiva.
Há, assim, uma realidade e a sua interpretação. A interpretação,
porém, é utilizada muito mais para torcer os fatos do que para descrevê-los corretamente. Observe as
religiões materialistas. O que é que os seus propagadores fazem? Eles tisnam a
pureza doutrinária do Cristo tendo em vista o enriquecimento pessoal. Fazem-no,
muitas vezes, ludibriando as mentes mais ingênuas e ansiosas por consolações
celestes. Estes, premidos pela dor e sofrimento, apegam-se a qualquer solicitação,
desde que haja promessa de cura e de salvação da alma.
Como intuir a verdade, se a nossa interpretação torce os fatos?
Para que tenhamos uma percepção mais acurada da verdade, não deveríamos tentar
descobri-la, mas, à semelhança de Descartes, descobrirmo-nos para ela. E o que
isto significa? Significa que deveríamos manter as nossas mentes limpas de
preconceitos, de interesses pessoais, de egoísmo. Se o nosso vaso estiver
limpo, tudo o que nele é depositado, é depositado de maneira pura. Não basta nos
sentarmos para ouvir; precisamos estar despertos para a audição.
Descobrindo-nos para a verdade, vamos nos tornando mais simples de
coração e mais propensos à captação dos conhecimentos superiores, que os
Espíritos mais elevados querem nos transmitir. E como somos intermediários – e
não criadores – dessas instruções, a lógica do raciocínio pede-nos cautela
contra a vaidade e o orgulho, dois grandes vícios que podem nos cegar a visão
crítica de nós mesmos. O "sei que nada sei" de Sócrates é mais
produtivo.
A busca do conhecimento superior reveste-se de uma atitude de
simplicidade. Está assentada na palavra do Cristo que prometia revelar os
conhecimentos espirituais da Boa Nova aos pobres de espírito e não aos
orgulhosos, os doutores da lei. É que as verdades mais profundas devem ser
cavadas com o sentimento e não simplesmente com a lógica do raciocínio.
Sintamos primeiramente Deus dentro de nós; depois, tornemo-Lo racional em
nossos pensamentos.
Assim, quanto mais estivermos atentos sobre nós mesmos, mais aptos
estaremos para receber as orientações evangélicas do Mestre Jesus.
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