27 junho 2008

Análise Filosófica

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é exercitar o pensamento, no sentido torná-lo mais racional e lógico. Para tanto, vamos tratar da análise filosófica, da análise dos conceitos e dos exercícios filosóficos.

2. CONCEITO

Analisar é decompor e discernir as diferentes partes de um todo, mas também reconhecer as diferentes relações que elas mantêm, quer entre si, quer com o todo. Pode-se dizer que é a quebra de um todo em seus componentes e suas mútuas relações.

Análise Conceitual distingue sem desmantelar. Refere-se às ideias. 

Análise empírica consiste em separar os componentes de um todo concreto.

3. HISTÓRICO

A lógica aristotélica dá-nos as primeiras noções da análise, principalmente quando visava resolver qualquer raciocínio nas figuras do silogismo. Na lógica do século XVII, a análise e a síntese são postas como dois métodos de ensino: a análise vai do todo para as partes; a síntese, das partes para o todo. A partir de Descartes, a análise e a síntese deixaram de ser consideradas dois métodos de ensino e passaram a ser dois processos diferentes de demonstração. A lógica de Port-Royal chamou a análise de "método da invenção" e a síntese de "método de composição" ou "método de doutrina".

Na filosofia moderna e contemporânea, a tendência analítica, isto é, a tendência a reconhecer a análise como método de investigação, disseminou-se e mostrou ser muito fértil, principalmente no empirismo. Na filosofia de Bérgson, a análise tem como alvo a consciência, isto é, a experiência interior, e tende a encontrar os dados últimos, isto é, imediatos, de tal experiência. Na filosofia de Dewey, a análise está voltada para a experiência humana em seu caráter total e tende a resolvê-la em operações naturais. (Abbagnano, 1970)

4. ANALISE FILOSÓFICA

4.1. ANÁLISE E DEFINIÇÃO

A análise é análoga à definição. As definições procuram explicitamente dar o sentido das palavras. As análises procuram explicitamente dar as condições necessárias e suficientes para os conceitos.

4.2. ANALYSANS E ANALYSANDUM

Toda a análise, assim como toda a definição, consiste em duas partes, um analysandum e um analysans. O analysandum é a noção que precisa ser explicada e esclarecida devido ao fato de haver nela algo que não é compreendido. O analysans é a parte da análise que explica e esclarece o analysandum, seja ao decompô-lo em partes, seja ao especificar suas relações com outras noções.

Uma análise tenta especificar em seu analysans as condições necessárias e suficientes para o conceito expresso no analysandum. Condições necessárias são aquelas que o analysans tem que conter a fim de evitar ser demasiado fraco.

4.3. OS DEFEITOS DAS ANÁLISES

Uma análise pode ser defeituosa por ser: 1) circular; 2) forte demais; 3) demasiadamente fraca.

Uma análise é circular se seu analysandum, ou termo-chave, ocorre no analysans. Por exemplo, se se tenta analisar "congelamento", é um erro propor como analysans "algo que acontece com um líquido quando ele congela".

Uma análise será demasiadamente forte se for possível dar um exemplo da noção sob análise que não satisfaça todas as condições especificadas no analysans; inversamente, será demasiadamente fraca a análise em que seja possível descrever alguma coisa que satisfaça todas as condições estabelecidas no analysans, mas que não é um exemplo do analysandum. (Martinich, 2002)

4.4. OS RESULTADOS DA ANÁLISE

Demolição de problemas mal concebidos;

Reformulação clara de problemas mal colocados;

Desvelamento de pressuposições;

Elucidação;

Erradicação de ideias preconcebidas.

5. ANÁLISE DE CONCEITOS

Analisar conceitos é mapear os usos possíveis e efetivos das palavras e suas consequentes aplicações. Geralmente, as perguntas sobre conceitos nos parecem estranhas porque não sabemos como responder a elas.

5.1. UM PEQUENO INCÔMODO

Pensar com conceitos é um incômodo para muitas pessoas que tem os seus pensamentos arrumadinhos. Depois de uma sessão de discussão acerca de conceitos, elas falam: "tantas palavras para nada"; "ninguém chegou à conclusão nenhuma". Esquecem-se de que a conclusão deve ser feita no âmago do Espírito, por cada um de nós.

5.2. OS BENEFÍCIOS DE SE PENSAR COM CONCEITOS

Um melhor uso das palavras e mais clareza dos pensamentos. Buscando os vários significados de cada termo, teremos condições de empregá-los corretamente, dando maior fluidez aos nossos raciocínios. Quando uma pessoa diz: "Este é um bom livro", podemos perguntar-lhe: O que você entende por um bom livro? Queremos que ela explique o entendimento dela acerca de um bom livro e não aquilo que está escrito no dicionário.

Haverá sempre algo novo a dizer sobre um tema, pois a nossa mente corre atrás dos seus significados e, com isso, vamos enriquecendo o nosso conhecimento acerca do assunto proposto. Sendo aplicado nesse exercício, eliminamos também o erro crasso de nos acharmos o dono da última palavra sobre o tema. A criatividade implica em ver sempre de forma diferente o mesmo assunto. Desta forma, quando alguém quer mudar tudo, não soube mudar a si mesmo a respeito do tema, pois há sempre uma forma atual de abordá-lo.

5.3. DISTINGUINDO FATO, VALOR E CONCEITO

O exercício de análise de conceitos deve se basear na distinção entre fato, valor e conceito. O fato é algo que se observa; pode-se quantificar. Por exemplo, O metal funde-se a x graus centígrados. Temos que ir esquentando o metal e, paralelamente, anotando os valores obtidos, a fim de chegarmos ao grau de ebulição do mesmo. O valor é um juízo que fazemos acerca de um fato, no sentido de gostar ou não gostar, de achar bom o ruim. O conceito é algo mais complexo. Temos que colocar em palavras o que concebemos com a mente. Se nos perguntarem, por exemplo, sobre o conceito de Deus, temos alguma dificuldade de dar uma resposta. (Wilson, 2001)

6. EXERCÍCIOS FILOSÓFICOS

Um bom método para nos colocarmos de frente para o conhecimento é nos propormos a fazer exercícios filosóficos. O que são os exercícios filosóficos? É o rigor da análise filosófica. Dada uma frase, temos que nos colocar em contradição para perceber o seu real sentido, pois se a aceitarmos sem discussão não a colocamos dentro de nós, mas simplesmente absorvemos como elemento externo.

6.1. OUSAR ENFRENTAR A COMPLEXIDADE

A análise filosófica é a exigência da comunicação na liberdade, na clareza e na vontade de compreender. É tentar enfrentar a complexidade das coisas e das pessoas. É desafiar as ideias para que as tenhamos como posse. Ora, se o sentido permanece como fruto de vitrine, vou continuar sendo expectador desta ou daquela significação. Não entro nela e ela não entra em mim. Somente volvendo e revolvendo, esquadrinhando e mastigando é que vamos dar às palavras o seu verdadeiro sentido.

6.2. PRECAUÇÕES A TOMAR

— Evitar unir num mesmo momento a compreensão do que é dito e o juízo de valor que formamos do objeto. Isso gera confusão e sentimento de que não há nada por dizer.

— Cercar por todos os lados possíveis as evidências comuns, a fim de que a reflexão filosófica descubra verdadeiras questões por trás das falsas certezas.

— Não se render à tentação de responder à pergunta sem mesmo examinar sua forma e seus termos. Muitos se esquecem da pergunta e começam a discorrer sobre as palavras que mais lhes chamam a atenção.

— Muitos dão importância à resposta sem uma análise da pergunta. Cercar a pergunta por todos os lados. Quando tomamos o que é dito como simples pretexto para o nosso próprio discurso é preenchimento e não filosofia.

6.3. PERGUNTAS CHAVES PARA O BOM EXERCÍCIO FILOSÓFICO

Por que? Como? Em que medida? Em que condições? Estejamos sempre atentos ao que nos for perguntado e oferecido como pensamento para a análise. (Arondel-Hohaut, 2000)

7. CONCLUSÃO

O pensamento é a chave de toda a nossa existência. Se tivermos o cuidado de adorná-lo e alicerçá-lo nas esferas superiores do conhecimento, com certeza alcançaremos maior liberdade em nossas ações diárias.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

ARONDEL-ROHAUT, Madeleine. Exercícios Filosóficos. Tradução por Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

MARTINICH, A. P. Ensaio Filosófico: o que é, como se faz. Tradução Adail U. Sobra. São Paulo: Loyola, 2002.

WILSON, John. Pensar com Conceitos. Tradução por Waldéa Barcellos. São Paulo: Martins Fontes, 2001. (Ferramentas)

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei dos seus comentários sobre análise filosófica. Para um leigo como eu, abriu um pouco os horizontes, mas vou exercitar mais para me aprimorar no desenvolvimento dos meus textos. Um abraço