"Dai-me
castidade e continência, mas não agora." (Confissões)
Santo
Agostinho de Hipona (354-430) é filho de mãe cristã e de pai pagão. Quando
jovem, ensinava retórica em Cartago. Nessa época, teve um filho com a amante e
se envolveu com o maniqueísmo, um sistema de crenças religiosas centradas na
luta entre o bem e o mal. Posteriormente, aderiu ao ceticismo e ao
neoplatonismo. Em 387, em Milão, Agostinho se converteu ao cristianismo.
Batizado no ano seguinte, ordenou-se padre em 391, e em 396 tornou-se
bispo de Hipona.
Para Agostinho,
a filosofia e a teologia eram indissociáveis. Depois de sua conversão ao
cristianismo, as suas crenças anteriores deixam de ter relevância. Adepto de
Platão, distingue o mundo imperfeito das formas materiais, acessado pelos
sentidos, do mundo perfeito e eterno, acessado pelo intelecto. Em seu
raciocínio, Deus é a unidade absoluta, donde tudo o mais jorra. Deus, na
realidade, é o ponto fixo que unifica tudo dentro de uma hierarquia eterna e
racional.
Santo Agostinho, um dos maiores pensadores da Patrística, valeu-se da
filosofia de Platão. No século V – principalmente em Alexandria – havia a
ideia da eternidade da alma, extraída da "Teoria das Formas ou das
Ideias", que aparece no Livro VI de A República, de Platão. E estas, segundo o platonismo, traziam a
lembrança de uma vida anterior sem o corpo (isso não concorda com o dado de
fé). Mas havia também a dúvida filosófica sobre a preexistência das almas.
Agostinho foi um
escritor prolífico. Confissões (400) e A Cidade de Deus (426) são as mais
citadas. O livro Sobre a Potencialidade da Alma (De Quantitate Animae) foi escrito em 388,
na cidade de Roma. Trata-se de um diálogo entre o professor Agostinho e o aluno
Evódio, ambos batizados quase ao mesmo tempo por Santo Ambrósio. A conversa
entre os dois mostra a confiança que Santo Agostinho depositou em seu aluno Evódio
que, na época, era ainda incipiente na arte de argumentar.
Sobre a Potencialidade da Alma é uma tentativa de
Santo Agostinho responder às cinco perguntas formuladas por Evódio: De onde se
origina a alma? O que ela é (qualis sit)? Como ela é (quanta sit)? Como se une ao corpo? Como procede
unida ao corpo, e quando separada dele? Ao longo das perguntas e respostas,
Santo Agostinho vai paulatinamente construindo um vasto conhecimento sobre a
relação entre a alma e a matéria.
O método socrático agostiniano é demorado. Há uma argumentação lenta e
detalhada sobre a alma e a sua ligação com o corpo físico. A demora se
justificava porque pretendia que o seu aluno Evódio pudesse absorver
profundamente o conhecimento veiculado. Para Santo Agostinho, o melhor método é
aquele que obriga o aluno a pensar com a própria cabeça. Por isso, o excessivo
rigor para com Evódio. Não perdia nenhuma ocasião de repreendê-lo, pois queria
que este estivesse sempre compenetrado de si mesmo.
Fonte de Consulta
AGOSTINHO, Santo. Sobre
a Potencialidade da Alma (De
Quantitate Animae). Tradução de Aloysio Jansen de Faria. 2.ed., Petrópolis,
Rio de Janeiro: Vozes, 2005.
LEVENE, Lesley. Filosofia
para Ocupados: dos Pré-Socráticos aos Tempos Modernos. Tradução de Débora
Fleck. Rio de Janeiro: LeYa, 2019.
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