11 fevereiro 2020

Santo Agostinho de Hipona

"Dai-me castidade e continência, mas não agora." (Confissões)

Santo Agostinho de Hipona (354-430) é filho de mãe cristã e de pai pagão. Quando jovem, ensinava retórica em Cartago. Nessa época, teve um filho com a amante e se envolveu com o maniqueísmo, um sistema de crenças religiosas centradas na luta entre o bem e o mal. Posteriormente, aderiu ao ceticismo e ao neoplatonismo. Em 387, em Milão, Agostinho se converteu ao cristianismo. Batizado no ano seguinte, ordenou-se padre em 391, e em 396 tornou-se bispo de Hipona.

Para Agostinho, a filosofia e a teologia eram indissociáveis. Depois de sua conversão ao cristianismo, as suas crenças anteriores deixam de ter relevância. Adepto de Platão, distingue o mundo imperfeito das formas materiais, acessado pelos sentidos, do mundo perfeito e eterno, acessado pelo intelecto. Em seu raciocínio, Deus é a unidade absoluta, donde tudo o mais jorra. Deus, na realidade, é o ponto fixo que unifica tudo dentro de uma hierarquia eterna e racional.

Santo Agostinho, um dos maiores pensadores da Patrística, valeu-se da filosofia de Platão. No século V – principalmente em Alexandria – havia a ideia da eternidade da alma, extraída da "Teoria das Formas ou das Ideias", que aparece no Livro VI de A República, de Platão. E estas, segundo o platonismo, traziam a lembrança de uma vida anterior sem o corpo (isso não concorda com o dado de fé). Mas havia também a dúvida filosófica sobre a preexistência das almas. 

Agostinho foi um escritor prolíficoConfissões (400) e A Cidade de Deus (426) são as mais citadas. O livro Sobre a Potencialidade da Alma (De Quantitate Animae) foi escrito em 388, na cidade de Roma. Trata-se de um diálogo entre o professor Agostinho e o aluno Evódio, ambos batizados quase ao mesmo tempo por Santo Ambrósio. A conversa entre os dois mostra a confiança que Santo Agostinho depositou em seu aluno Evódio que, na época, era ainda incipiente na arte de argumentar.

Sobre a Potencialidade da Alma é uma tentativa de Santo Agostinho responder às cinco perguntas formuladas por Evódio: De onde se origina a alma? O que ela é (qualis sit)? Como ela é (quanta sit)? Como se une ao corpo? Como procede unida ao corpo, e quando separada dele? Ao longo das perguntas e respostas, Santo Agostinho vai paulatinamente construindo um vasto conhecimento sobre a relação entre a alma e a matéria.

O método socrático agostiniano é demorado. Há uma argumentação lenta e detalhada sobre a alma e a sua ligação com o corpo físico. A demora se justificava porque pretendia que o seu aluno Evódio pudesse absorver profundamente o conhecimento veiculado. Para Santo Agostinho, o melhor método é aquele que obriga o aluno a pensar com a própria cabeça. Por isso, o excessivo rigor para com Evódio. Não perdia nenhuma ocasião de repreendê-lo, pois queria que este estivesse sempre compenetrado de si mesmo.

Fonte de Consulta

AGOSTINHO, Santo. Sobre a Potencialidade da Alma (De Quantitate Animae). Tradução de Aloysio Jansen de Faria. 2.ed., Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2005.

LEVENE, Lesley. Filosofia para Ocupados: dos Pré-Socráticos aos Tempos Modernos. Tradução de Débora Fleck. Rio de Janeiro: LeYa, 2019.


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