24 fevereiro 2020

Heráclito

"Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio." (Heráclito)

Heráclito (535-475 a.C.) foi um filósofo pré-socrático, natural de Éfeso, na atual Turquia, filho de aristocráticos. Contemporâneo de Parmênides, conhecido pela ambiguidade de suas sentenças breves em forma de prosa.

Para Heráclito, o arché está o fogo, que cria e transforma todas as coisas. Heráclito trata o fogo muito mais como uma metáfora do que como um elemento natural específico. Observe a comparação que faz com a moeda: “pela sua capacidade de transformar uma coisa em outra, o fogo pode ser substituído pelo símbolo do dinheiro, que, por sua vez, é capaz de trocar uma mercadoria por qualquer outra”.

Heráclito afirma que não nos banhamos duas vezes no mesmo rio. Explicação: nada existe de estável e definitivo na natureza; tudo muda continuamente. Cada coisa é e não é, ao mesmo tempo. Nós mesmos somos e não somos, porque existir, viver, significa tornar-se, ou seja, mudar a própria condição atual por uma outra.

Sobre o logos. De acordo com Heráclito, todos têm o logos, mas só os despertos o sabem. O logos é o pensamento, a razão, a inteligência, o discurso; é, também, o princípio de tudo, a lei que regula o funcionamento do cosmo. Todos participam do logos universal. “Alguns, os adormecidos, limitam-se às percepções imediatas, vivem como que num sonho e desenvolvem opiniões subjetivas; outros – os filósofos ou os despertos – utilizam o logos de modo consciente e conseguem penetrar profundamente na verdade da natureza”.

Sobre o devir. Heráclito acha que a guerra é pai de todas as coisas. O devir se realiza por meio de uma contínua passagem de um contrário ao outro. Daí, parecer que a guerra é o que regula o mundo. Isto é verdade, mas muito superficial, ou seja, sob o antagonismo dominante, pode-se perceber uma lei de harmonia, porque as coisas em oposição, para existir, precisam umas das outras. “Entre os opostos há uma guerra constante, mas também uma secreta harmonia, uma mútua necessidade: não existiria saúde sem doença, saciedade sem fome. Dito de outra forma: não pode existir uma subida que, ao mesmo tempo, de um outro ponto de vista, não seja também uma descida”. (1)

Algumas de suas sentenças: "não podemos entrar duas vezes no mesmo rio"; "a  doença faz da saúde algo agradável e bom: "os que procuram ouro escavam muita terra, mas encontram pouco metal"; "tu não encontrarás os confins da alma, caminhes o quanto caminhares, tão profunda é ela"; "se não esperares, não irás achar o inesperado, porque ele não se pode achar e é inacessível"; "a  luta é a regra do mundo e a guerra é que cria todas as coisas". 

(1) NICOLA, Ubaldo. Antologia Ilustrada de Filosofia: das Origens à Idade Moderna. Tradução de Margherita De Luca. São Paulo: Globo, 2005.

 

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