15 fevereiro 2020

Hegel

"O que é racional é real, e o que é real é racional." A Filosofia do Direito

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) foi considerado por muitos o maior filósofo idealista alemão. O pano de fundo de sua filosofia é o idealismo absoluto, que já fora ventilado por outros filósofos, entre eles Schelling, mas somente com Hegel atinge a sua maturidade. No pensar absoluto, há uma identidade entre sujeito e objeto: "O absoluto é sujeito". São características de seu caráter a serenidade, o pensar lento, mas firme e tenaz unidos à profundidade do sentimento. Faltava-lhe todo o ímpeto, toda a genialidade, toda a inclinação para manifestar o subjetivo. Sua natureza era fria e objetiva, e vai se desdobrando lentamente em um trabalho sereno e amplo. 

A filosofia deve começar sem suposições. ==> Não devemos supor que as estruturas do pensamento e a consciência são imutáveis. ==> Não devemos supor que toda a realidade é dividida em pensamentos e objetos do pensamento. ==> Essas mesmas estruturas são aspectos do espírito. ==> Pensamentos e objetos são aspectos do espírito. ==> Toda realidade é espírito e todo espírito é sujeito ao desenvolvimento histórico. ==> Toda realidade é processo histórico. (1)

No livro A fenomenologia do espírito, Hegel esboça o desenvolvimento da mente, da consciência mais básica, passando pela autoconsciência e pela razão, até chegar à consciência pura do espírito, que é o conhecimento absoluto. Em A ciência da lógica, ele explica como os conceitos de realidade são revelados por meio do raciocínio dialético: propor uma tese, considerar o seu oposto ou sua antítese e, a partir do conflito entre os dois, nasce uma síntese. Essa é a forma como o raciocínio humano evolui, e não é apenas a lógica que segue esse caminho; a história também se move de modo similar em direção ao Absoluto. Na Enciclopédia das ciências filosóficas, Hegel aplica a abordagem dialética a todas as áreas do conhecimento, e na obra A filosofia do direito, expõe sua filosofia política. (2)

A filosofia de Hegel é a filosofia do idealismo absoluto. Na filosofia kantiana, o mundo aparece dividido em sujeito e objeto, formas a priori e a posteriori, razão e experiência. Para Hegel, essa cisão é incorreta. Há, sim, uma identidade entre sujeito e objeto. Nada existe além do pensamento. O ser é o que pode ser pensado. O conhecimento, portanto, não é mero conhecimento fenomênico, mas conhecimento total. O absoluto, que em termos religiosos é Deus, pode e deve, segundo  Hegel, ser 
conhecido, porque é sujeito. (3)

Hegel destacou-se por sua dialética. Ele entende a dialética da seguinte forma: 1) cada coisa seria a união de opostos; 2) cada mudança origina-se em oposição (ou "contradição"); 3) qualidade e quantidade mudam uma na outra. Em outras palavras, Hegel parte da Tese – Ser, indeterminado, absoluto, pura potencialidade, o qual deve se manifestar na realidade através da Antítese – Não-Ser. Na contradição entre tese e antítese surge a Síntese – Vir-a-Ser. Esse raciocínio é aplicado tanto à aquisição de conhecimento quanto à explicação dos processos históricos e políticos. Para ele, a verdadeira ciência do pensamento coincide com a ciência do ser.

Fonte de Consulta

(1) VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011

(2) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013

(3) Temática Barsa – Filosofia

Notas de livro

Hegel, como os artistas da bola, que, com seus escritos deixou atordoados não apenas os seus contemporâneos, mas também muitas gerações de leitores. De sua cartola tirou o “conhecimento absoluto”. Entre os filósofos, Hegel também possui partidários fervorosos, que veem em sua obra o ápice da filosofia europeia. Outros tratam sua linguagem difícil com grande desconfiança, e o leitor imparcial vê a si próprio constantemente confrontado com a questão: afinal, do que Hegel está falando aqui?

De todas as obras de Hegel, a Fenomenologia do espírito, seu primeiro e até hoje mais conhecido projeto sistemático, foi o que mais fascinou os leitores. Hegel é o último grande representante do idealismo filosófico. Ele acredita que uma substância espiritual, a saber, a razão, constitui o cerne da realidade. A Fenomenologia descreve o caminho tortuoso, percorrido pela razão, para mostrá-la em sua verdadeira forma.

O estilo de Hegel influenciou, no entanto, até mesmo os seus críticos. Um deles foi o teólogo dinamarquês Soren Kierkegaard, que, com sua obra Estágios no caminho da vida, produziu um texto de filosofia da existência contrário à Fenomenologia, substituindo o desenvolvimento de um absoluto por outro da concepção concreta da vida do indivíduo, portanto uma “dialética da existência”. Também na filosofia existencialista do século XX, como no livro O ser e o nada, de Jean-Paul Sartre, continuam a ser empregados alguns conceitos da dialética hegeliana, entre eles o “ser-em-si” e o “ser-para-si”.

Mas um dos principais divulgadores do ideário hegeliano foi, sobretudo, o marxismo. Seu fundador, Karl Marx, o grande analista do capitalismo, adotou a ideia de progresso de Hegel no sentido de um desenvolvimento dialético da razão no mundo, mas a interpretou do ponto de vista materialista: para ele, foram as forças econômicas e sociais que levaram a humanidade adiante.

ZIMMER, Robert. O Portal da filosofia: Uma Breve Leitura de Obras Fundamentais da Filosofia Volume 2. Tradução Rita de Cassia Machado e Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2014.



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