17 fevereiro 2020

Russell, Bertrand

"A matemática, vista corretamente, possui não apenas verdade mas também suprema beleza  uma beleza fria e austera, como a da escultura." (O Estudo da Matemática)

Bertrand Russell (conde) (1872-1970) foi o mais influente filósofo britânico do século XX. Foi ensaísta e crítico social, mais conhecido por seu trabalho de lógica matemática e filosofia analítica. Fundador do logicismo e da teoria dos tipos (Principia Mathematica, em colaboração com A. N. Whitehead, 1910-1913), distinguiu-se igualmente pelo vigor dos seus compromissos políticos, morais e humanitários. Fundou em 1966 o Tribunal Russel para condenar os crimes de guerra dos EUA no Vietnã [Prêmio Nobel de Literatura, 1950].

Nossas atitudes diante do trabalho são irracionais. ==> Admitimos que o trabalho é bom em si mesmo. ==> Atribuímos valores diferentes a diferentes tipos de trabalho. ==> Essas atitudes levam à infelicidade. ==> Devemos reconhecer qual trabalho é genuinamente valioso - e escolher fazê-lo. ==> Trabalhar menos aumentará a felicidade humana. (1)

Educado dentro de casa, ele estudou línguas modernas, economia, história constitucional, matemática e ciência. Em 1890, foi para o Trinity College, Cambridge, estudar matemática, mas migrou para filosofia em 1893, graduando-se com distinção no ano seguinte. Em 1895 tornou fellow. Em 1896 escreveu o estudo político Social-democracia alemã, o primeiro de seus vários livros. Por volta da mesma época, teve contato com o trabalho de um grupo de matemáticos alemães. Segundo Russell, essas ideias tinham relevância não somente para a matemática como também para a filosofia: se era possível provar a verdade matemática de forma objetiva, por que o mesmo não valeria para o conhecimento humano.

Rejeitando a filosofia idealista hegeliana que até então havia abraçado, com sua busca por sistemas abrangentes, Russell concentrou-se, em vez disso, na análise lógica aprofundada. Em Os princípios da matemática (1903), ele argumentava que a matemática deveria ser tratada como um subconjunto da lógica, ao passo que a obra em três volumes Principia Mathematica (1910-1913), escrita com Alfred North Whitehead, reforçava a ideia da derivação lógica da matemática, contando também com uma análise filosófica que nem sempre eram claras o bastante para transmitir formas lógicas verdadeiras. (2)

Apesar de sua imensa produção filosófica, que abordava assuntos como física, lógica, religião, educação e moral, Russell nunca foi uma personalidade estritamente acadêmica. Em 1911 publicou “Problems of Philosophy” (1911) e “Our Kwonledge of the External World” (1914), que confirmaram o seu inegável prestígio.

(1) VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.

(2) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.

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Vinte e cinco séculos mais tarde, refletindo sobre a importância fundamental desempenhada pelos números na ciência contemporânea (em particular na "teoria da relatividade geral" de Albert Einstein, na "teoria dos quanta" de Max Planck e na "mecânica ondulatória" devida a Louis de Broglie), o filósofo e matemática britânico Bertrand Russell escreveu um dia: "O que há de mais espantoso na ciência moderna é seu retorno ao pitagorismo".

Bertrand Russell (1872-1970)

Bertrand Arthur William Russell, terceiro conde de Russell, nasceu no País de Gales, em uma família tradicional, no auge do poderio econômico e político inglês. Tornou-se filósofo, lógico e matemático, além de inveterado humanista. Escritor prolífico, ajudou a popularizar a filosofia por meio de palestras e comentários sobre uma grande variedade de assuntos, não apenas acadêmicos mas também relativos a questões da atualidade. Seguindo a tradição familiar de forte posicionamento político, foi um proeminente pacifista, contra a intervenção norte-americana na Primeira e na Segunda Guerra Mundial, em favor da emancipação feminina e do controle da natalidade e ferrenho defensor das reformas sociais; defendia o livre-comércio entre as nações e combatia o imperialismo. Agnóstico declarado, criticava qualquer forma de autoridade que tolhesse a liberdade de pensamento e a expressão e acusava as instituições religiosas e os fiéis por dificultarem a vida do ser humano. Pagou o preço por seu posicionamento secularista quando, em 1939, após uma controvérsia pública, foi proibido pela justiça de Nova York de lecionar no City College. Seus leitores e admiradores viam nele um profeta da vida criativa, moderna e racional. Foi um dos primeiros defensores do desarmamento nuclear. Dono de um estilo de escrita límpido e característico pela clareza de seus raciocínios — bem como pela coragem e ousadia com que se dedicava às suas causas —, em 1950 recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, “em reconhecimento de seus variados e importantes escritos nos quais advoga ideais humanitários e a liberdade de pensamento”. Em 1966, emprestou o nome ao Tribunal Bertrand Russell, criado em Londres como parte do Movimento Comunista Internacional, destinado a “julgar” países que combatiam o comunismo e defendiam o imperialismo norte-americano. (Acabou por se afastar do organismo, posteriormente transferido para Roma.) Na década de 1960, denunciou os Estados Unidos pela invasão do Vietnã. Foi casado quatro vezes. Morreu com quase cem anos, enfraquecido por uma gripe. Escreveu inúmeros livros, entre os quais Por que não sou cristão (1927), Ensaios céticos (1928) e História da filosofia ocidental (1946). (Extraído de No que Acredito, por Bertrand Russell)

 


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