"A vida do homem é solitária, pobre, sórdida, brutal e
curta." Leviatã
Thomas Hobbes (1588-1679) estudou a Escolástica e a filosofia de Aristóteles,
em Oxford. Percorreu o continente, onde conheceu muitos dos grandes espíritos
de seu tempo. Depois da convocação do Long Parliament, fugiu para a
França, em novembro de 1640, donde só voltou depois que fez as pazes com
Cromwell, em 1651. Aos 40 anos, Hobbes ficou fascinado pela geometria
euclidiana e pela ideia de que suas certezas poderiam ser aplicadas em um
estudo sobre os indivíduos e a sociedade. Em outras palavras, poderia haver
regras similares governando a ciência política.
Nada sem substância pode existir.
==> Então tudo no universo
é físico.
==> Um ser humano é,
portanto, inteiramente físico. ==> O homem é uma máquina. (1)
Em 1642, no livro Do
cidadão, Hobbes apresenta pela primeira vez as suas ideias sobre as origens da
sociedade civil. Em Leviatã ou matéria,
forma e poder de um Estado eclesiástico e civil (1651), ele
desenvolve melhor essas ideias, e traz, também, reflexões sobre metafísica,
psicologia e filosofia política. Do encontro com Galileu, em
1636, incorporou a ciência mecânica e do movimento em suas reflexões, como
forma de explicar o comportamento humano.
Thomas Hobbes defende a tese de que o homem é lobo
do próprio homem. Sendo materialista, imagina que os indivíduos são completamente egoístas
em seu estado natural, brigando entre si pelo que precisam, tendo como
consequência a guerra. Para evitar isso, os seres humanos aceitam um contrato
social por meio do qual cada um abre mão de um pouco de independência, em prol
do bem maior. A sociedade civil resultante existe sob os ditames de um soberano
com poder absoluto, ao qual todos concordam em se curvar em troca de proteção
nos casos de guerra. (2)
A República, parte dois de Leviantan, de acordo o
próprio autor, nada mais é do que a aplicação da lei natural, conhecida como
lei áurea: "Não fazermos aos outros o que não gostaríamos que fosse feito
a nós". Em essência é o contrato celebrado por todos os participantes, em
que uns delegam poderes aos outros, considerados mais sábios, a fim de poderem
administrar a coisa pública. As pessoas investidas de poder devem visar não os
seus interesses particulares, mas os da maioria, ou seja, da república
constituída.
A tese da guerra, levantada por Hobbes, vai de encontro à teoria do amor natural sustentada por Cícero, em que afirma haver uma inclinação natural que nos leva a amar o nosso semelhante, sendo este o motivo para a prática das virtudes, da justiça e do relacionamento social. Hobbes, ao contrário, defende a tese do interesse pessoal. Como todos vão procurar os seus interesses pessoais, pode haver grandes demandas e grandes insatisfações por parte de todos. Nesse caso, o Estado deve manter a ordem através das leis civis, o que geraria a paz.
Hobbes, no seu afã do interesse pessoal, contradiz
também a tese do animal político de Aristóteles. Para Aristóteles, os homens
são animais políticos que devem viver em sociedade, em que uns ajudam os
outros. Para Hobbes, eles tendem a olhar somente para si mesmos, para os seus
interesses e assim vão inevitavelmente à guerra. Em toda a situação, defende o
Estado forte como sendo o único capaz de instituir e manter a ordem social, no
sentido de evitar a guerra.
"O homem é lobo do homem", frase que
imortalizou Hobbes, recebeu represálias de muitos outros pensadores: se o
governante age exclusivamente pelo seu interesse pessoal, como pode defender os
interesses dos demais cidadãos? Além do mais, à medida que desconfiamos do
outro o outro tem todo o direito de desconfiar de nós. Isso gera um clima de
desconfiança geral, o que não condiz com a realidade dos fatos. Por isso, a lei
áurea proposta pelos grandes pensadores da humanidade tem mais peso, ou seja,
"fazer ao outro o que gostaríamos que nos fosse feito caso estivéssemos na
mesma situação". (FRATESCHI, Yara. Hobbes: a Instituição do Estado.
In: FIGUEIREDO, Vinicius (org.). Filósofos na Sala de Aula.
São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2007, vol. 2.)
Thomas Hobbes, em Leviatã,
crê que, por natureza, não existe o bem e o mal, o justo e o injusto, o certo e
o errado. Temos, por natureza, o direito do que desejamos. Cria um ser humano
sem consciência, pois não faz nenhuma distinção moral entre o bem e o
mal.
Para Hobbes, o Estado soberano é
um Deus mortal. Acha que o homem só cumpre a lei quando é atemorizado pelo
Estado; quanto mais forte o Estado, menos serão as transgressões. “Hobbes foi o
teórico do absolutismo político; considerava o Estado uma entidade digna de
veneração, um Deus mortal pouco abaixo de Deus imortal, um Leviatã,
o invencível monstro descrito na Bíblia (Livro de Jó)”.
(1) VÁRIOS
COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie
Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.
(2) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você
Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa
da Palavra, 2013.
Notas de Livro
O Estado como homem
forte
Thomas Hobbes: Leviatã
(1651)
Cidadãos de países ocidentais, que zelam por sua
liberdade, reagem defensivamente e desconfiam quando o Estado tenta ampliar a
sua autoridade e intervir nessa liberdades. Em outras partes do mundo, em que
reinam o direito dos mais fortes, a corrupção e a criminalidade, os cidadãos
esperam do Estado a segurança jurídica que os proteja.
Thomas Hobbes, Leviatã, como Platão,
em A República, quis delinear uma ordem política em que a paz e a
estabilidade estivessem asseguradas. Por isso, defendia que todos os cidadãos e
todos os grupos da sociedade se submetessem, incondicionalmente, ao poder do
Estado. Somente o Estado poderia defender o cidadão contra as arbitrariedades.
Thomas Hobbes foi o fundador da chamada “teoria do
contrato”.
Filho de clérigos, passou grande parte de sua vida
como preceptor em famílias nobres. Com isso, viajou conheceu outros países.
Durante a sua terceira viagem, teve oportunidade de conhecer René Descartes,
fundador do racionalismo moderno e Pierre Gassendi, filosofo naturalista.
Quando porém, em 1636, conheceu Galileu Galilei,
aprendeu dele a mecânica, que foi base de seu próprio pensamento.
Do cidadão foi planejado
como terceira e última parte de uma obra maior. Foi publicado em 1642, antes
das duas outras partes, Do corpo e Do homem, que
foram publicados somente em 1655 e 1658, respectivamente.
Com a frase “homo homini lúpus” — “o homem é o lobo
do homem”, Hobbes não apenas descreve a situação do homem no estado de
natureza, massa também revela sua concepção do homem.
O Leviatã é composto de quatro
partes extensas. 1) “Do homem”; 2) “Estado”, considerada a principal do livro;
3) “Do Estado cristão”, em que compara a concordância entre sua nova filosofia
política e a doutrina cristã; 4) “Do reino das trevas”, título aparentemente
religioso em que interpreta o reino bíblico de Satanás como reino das ilusões e
ignorância.
Famosa frase de Hobbes: “Covenants, without the Sword,
are but Words” — Pactos sem espadas são apenas palavras”, presente no capítulo
17 do Leviatã.
Para estabelecer um poder que possa impor a paz
também pela espada é necessário um “contrato social”, válido para todos.
Segundo Hobbes, “é ao surgimento daquele
grande Leviatã, ou melhor, (...) daquele Deus mortal,
que devemos, abaixo do Deus imortal, nossa paz e nossa segurança.
A teoria hobbesiana de que soberano é instalado por
meio de um contrato social possui um aspecto democrático e outro totalitário.
Deve-se a Rousseau a ideia que mais se aproxima
daquela do soberano de Hobbes, ou seja, a de uma “volonté générale”, uma
“vontade geral” que representa a vontade de todos e, por essa razão, não pode
sofrer nenhuma resistência.
ZIMMER, Robert. O Portal da
filosofia: Uma Breve Leitura de Obras Fundamentais da Filosofia Volume 2.
Tradução Rita de Cassia Machado e Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes,
2014.
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