"Em terra de cego, quem tem um olho é rei." (Adágios)
Desidério Erasmo (Erasmo de
Roterdã) (1466-1536) foi um teólogo e escritor holandês, o
maior vulto do Humanismo cristão. Dedicou toda sua vida à causa da reforma
interna da Igreja Católica. Seu sonho era uma Europa espiritual unida, com uma
língua comum aproximando todas as pessoas. Em 1500 publica “Adágios”,
uma coleção de citações latinas e provérbios. A obra representou, para a época,
o máximo em literatura de divulgação, tornando célebre o nome do autor.
Em 1516 publica suas apreciações "Críticas do Novo Testamento"
e “Cartas de São Jerônimo", dedicando-as ao Papa Leão X, obras que
consolidam sua fama. Em 1517 tem início a Reforma Protestante. Atendendo aos
desejos de Erasmo, uma sentença de Leão X permite-lhe deixar definitivamente o
hábito da Ordem dos Agostinianos. Em 1535 vai para a Basileia, na Suíça, para
supervisionar a edição de "Eclesisastes", seu último trabalho. (1)
O humanismo, que tem
seu berço na Itália, estende-se por toda a Europa do século XVI. O humanismo se
converte num movimento cultural que defende a tolerância e a liberdade
individual, no padrão de uma síntese renovada entre a Antiguidade clássica e o
cristianismo. A figura máxima do humanismo reformista do século XVI é Erasmo de
Rotterdam. Sua doutrina, crítica com uma igreja — a romana —, prepara na
realidade a Reforma protestante. Mas Erasmo não é um político, e o humanismo,
reduzido ao âmbito cultural, acaba sendo deslocado pelo protestantismo de
Lutero e pela Contra-Reforma que nasce no concílio de Trento. (2)
Diante dos grandes
descobrimento geográficos e os notáveis avanços técnico-científicos, Erasmo
exprime, em 1517, o seguinte pensamento: "vejo uma idade de ouro no futuro
próximo". Quer dizer, os referidos avanços promoveriam os ideais de
tolerância e concórdia entre todos os seres humanos autônomos. Este sonho não
se torna real, pois o que se vê são as frequentes guerras entre os adeptos das
várias religiões.
Erasmo de
Rotterdam tece comentários sobre a loucura de Cristo e dos cristãos. Para
ele, as normas sociais nem sempre se coadunam com uma vida autenticamente
cristã. Há, assim, dois tipos de loucura: a) dos poderosos, ou seja, daqueles
que reduzem o Cristianismo à observância dos ritos; b) dos cientistas, que
desafiam o desconhecido pelo amor ao conhecimento. Estes é que são os
verdadeiros cristãos, porque abandonam tudo, para imitar a loucura da
cruz.
Para Erasmo, a
responsabilidade ética pressupõe o livre-arbítrio. Acha que o homem pode pecar,
porque age com liberdade. Acrescenta, porém, que sem a ajuda divina o homem não
pode salvar-se, pois negaria a existência de Deus. Em síntese: a graça divina é
a primeira condição para a salvação, seguida pela liberdade do homem e pelas
suas obras meritórias. (3)
(1)
(2) Temática Barsa Filosofia
(3) NICOLA,
Ubaldo. Antologia Ilustrada de Filosofia: das Origens à Idade
Moderna. Tradução de Margherita De Luca. São Paulo: Globo, 2005.
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Concílio de Trento
O Concílio de Trento foi a reação lógica da Igreja ante a extensão que adquiriram as doutrinas de Lutero e de outros reformistas. Mas foi também a constatação da profunda crise espiritual sofrida pela estrutura eclesiástica e da necessidade de redefinir seus projetos.
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