O conhecimento, captado e divulgado por
um mestre espiritual, apresenta resultado no tempo-espaço em que foi projetado.
Ele serviu para um determinado grupo, numa determinada época. Para ter validade
nos dias que correm, há necessidade de renová-lo e adaptá-lo às necessidades
presentes, pois a mente e as pessoas estão em eterna mutação. Imaginemos as
pregações de Jesus, feitas há 2000 anos, à beira do lago ou nas encostas das
montanhas. Será eficaz repetir esses mesmos atos hoje?
Um grupo religioso surge e se fortalece
ao redor de um mestre. Este, por sua vez, vale-se de livros e textos de algum
revelador do passado. Se o grupo, que se forma hoje, segue de modo irrestrito
todos os exercícios, propostos naquela época, há muito mais um adestramento do
que um desenvolvimento espiritual. O desenvolvimento espiritual autêntico extrapola
tempo, espaço, técnica e qualquer tipo de exercício; ele pressupõe
eminentemente a compreensão do que o ser humano está fazendo.
Para que um grupo progrida, os
ensinamentos veiculados devem atender às necessidades dos participantes deste
grupo. O que adianta traçar planos mirabolantes, evocar as divindades gregas,
clamar pelos grandes líderes religiosos, se tudo isso estiver distante dos
anseios do grupo? O alimento, para ser eficaz, deve produzir uma transformação
nas pessoas que o recebem. A simples repetição de atos exteriores, mesmo dos
maiores líderes espirituais da humanidade, conduz ao automatismo e embota a
intuição.
Há um evangelho apócrifo que escreve
uma observação atribuída a Jesus: "Jesus disse: ‘Havia dois homens que
foram vender maçãs. Um deles escolheu vender a pele da maçã por seu peso em
ouro, sem se preocupar com sua substância. O outro desejava presentear as
maçãs, recebendo em troca um pouco de pão para sua viagem. Porém os homens
compraram a pele das maçãs por peso em ouro, sem se importarem com aquele que
estava disposto dá-las e quase o desprezando’". A busca do conhecimento,
para a maioria de nós, funciona dessa maneira: a substância fica sempre em
segundo plano; preferimos pagar um preço muito alto pelas inutilidades, mas recusar
o conhecimento gratuito dos sábios.
Qual deve ser, então, o trabalho de um
mestre espiritual? O mestre não deve ser o monopolizador das instruções, o
conhecedor de todos os mistérios da natureza, ou aquele que dirime todas as
dúvidas. A sua função precípua é "des-condicionar" a mente dos seus
seguidores, no sentido de fazê-los penetrar na essência do conhecimento
espiritual. Para obter êxito nessa empreitada, deve estar constantemente
incentivando os seus adeptos a pensarem pela própria cabeça.
Estejamos sempre enaltecendo as
virtudes evangélicas. Sejamos os verdadeiros homens de bem, que destroem o ego
para que o Cristo interior cresça em espírito e verdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário