"O que é a
filosofia? Não seria uma preparação para nos depararmos com o que vem pela
frente?" — Discursos
Epiteto
(55-135) não nos deixou escritos
filosóficos. Os pontos principais de sua doutrina foram preservados graças ao
historiador Flávio Arriano, um de seus alunos. Arriano transcreveu em grego um
número considerável de palestras de seu mestre. Essas palestras, conhecidas
como os Discursos (ou Diatribes) foram
originalmente reunidas em oito livros, dos quais apenas quatro subsistiram até
nossos dias. O Manual de Epiteto (ou Enchiridion)
é um conjunto de trechos selecionados dos Discursos que forma
um resumo conciso da essência dos ensinamentos de Epicteto.
Epiteto nasceu
escravo por volta de 55 d.C., em Hierópolis, Frigia, no extremo oriental do
império Romano. Seu mestre foi Epafrodito, o secretário administrativo de Nero.
Dado seu talento intelectual, Epafrodito mandou-o a Roma para estudar com o
famoso professor estoico Gaio Musônio Rufo. Tornando-se o aluno mais
aclamado de Musônio Rufo, acabou sendo libertado da escravidão. Epiteto ensinou
em Roma até o ano 94 d.C., quando o imperador Domiciano, ameaçado pela
crescente influência dos filósofos, expulsou-o de Roma. Passou o resto de sua
vida no exílio em Nicópolis, na costa noroeste da Grécia. Ali fundou uma escola
filosófica e passou seus dias fazendo palestras sobre como viver com mais
dignidade e tranquilidade.
A base de seus
ensinamentos encontra-se na clara distinção entre aquilo que se pode controlar
e aquilo que não se pode. Dizia ele que podemos controlar nossas opiniões,
aspirações e desejos e as coisas que nos causam repulsa ou nos desagradam. Fora
do nosso controle estão as circunstâncias, as intempéries do tempo e o fato de
ter nascido rico ou pobre. Tentar controlar aquilo que não pode ser controlado
gera angústia e aflição. Por isso, pede que evitemos assumir as questões dos
outros, porque estas tiram-nos ou desviam-nos do nosso caminho.
Anotemos alguns de
seus pensamentos: "tudo tem um bom motivo para acontecer";
"aceite os acontecimentos à medida que ocorrem"; "não são os
acontecimentos que nos ferem, mas a visão que temos deles"; "nunca
dependa da admiração dos outros, mas crie o seu próprio mérito";
"evite adotar os pontos de vistas negativos de outras pessoas, porque eles
podem ser contagiosos"; "a busca da sabedoria atrai críticas";
"ao tentarmos agradar outras pessoas, corremos o risco de nos desviarmos
para o que está fora de nossa esfera de influência".
Para Epiteto, a
meta principal da filosofia é ajudar as pessoas comuns a enfrentar positivamente
os desafios cotidianos e as dificuldades da vida. É, comparativamente, um
modelo taoista para o Ocidente, pois sua filosofia identifica-se com
a arte de viver. Assim sendo, a filosofia deve responder ao apelo da alma.
Pode-se dizer também que a verdadeira filosofia não envolve rituais exóticos,
liturgias misteriosas ou crenças originais. É, sim, o amor à sabedoria, a arte
de viver.
Embora devamos
pensar por nós mesmos, uma reflexão sobre o modo de pensar dos outros, muito
contribui para o nosso engrandecimento espiritual. Não importa de onde veio o
ensinamento; basta apenas que o coloquemos em prática.
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