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09 setembro 2006

O Mestre Espiritual e o Conhecimento

O conhecimento, captado e divulgado por um mestre espiritual, apresenta resultado no tempo-espaço em que foi projetado. Ele serviu para um determinado grupo, numa determinada época. Para ter validade nos dias que correm, há necessidade de renová-lo e adaptá-lo às necessidades presentes, pois a mente e as pessoas estão em eterna mutação. Imaginemos as pregações de Jesus, feitas há 2000 anos, à beira do lago ou nas encostas das montanhas. Será eficaz repetir esses mesmos atos hoje?

Um grupo religioso surge e se fortalece ao redor de um mestre. Este, por sua vez, vale-se de livros e textos de algum revelador do passado. Se o grupo, que se forma hoje, segue de modo irrestrito todos os exercícios, propostos naquela época, há muito mais um adestramento do que um desenvolvimento espiritual. O desenvolvimento espiritual autêntico extrapola tempo, espaço, técnica e qualquer tipo de exercício; ele pressupõe eminentemente a compreensão do que o ser humano está fazendo.

Para que um grupo progrida, os ensinamentos veiculados devem atender às necessidades dos participantes deste grupo. O que adianta traçar planos mirabolantes, evocar as divindades gregas, clamar pelos grandes líderes religiosos, se tudo isso estiver distante dos anseios do grupo? O alimento, para ser eficaz, deve produzir uma transformação nas pessoas que o recebem. A simples repetição de atos exteriores, mesmo dos maiores líderes espirituais da humanidade, conduz ao automatismo e embota a intuição.

Há um evangelho apócrifo que escreve uma observação atribuída a Jesus: "Jesus disse: ‘Havia dois homens que foram vender maçãs. Um deles escolheu vender a pele da maçã por seu peso em ouro, sem se preocupar com sua substância. O outro desejava presentear as maçãs, recebendo em troca um pouco de pão para sua viagem. Porém os homens compraram a pele das maçãs por peso em ouro, sem se importarem com aquele que estava disposto dá-las e quase o desprezando’". A busca do conhecimento, para a maioria de nós, funciona dessa maneira: a substância fica sempre em segundo plano; preferimos pagar um preço muito alto pelas inutilidades, mas recusar o conhecimento gratuito dos sábios.

Qual deve ser, então, o trabalho de um mestre espiritual? O mestre não deve ser o monopolizador das instruções, o conhecedor de todos os mistérios da natureza, ou aquele que dirime todas as dúvidas. A sua função precípua é "des-condicionar" a mente dos seus seguidores, no sentido de fazê-los penetrar na essência do conhecimento espiritual. Para obter êxito nessa empreitada, deve estar constantemente incentivando os seus adeptos a pensarem pela própria cabeça.

Estejamos sempre enaltecendo as virtudes evangélicas. Sejamos os verdadeiros homens de bem, que destroem o ego para que o Cristo interior cresça em espírito e verdade.

 

19 outubro 2005

O que é um Mestre?

O tema tem uma interrogação que requer uma explicação. A pergunta refere-se a "um" mestre e não a "o" mestre (por excelência). Dessa forma, para bem pensar sobre este assunto, devemos buscar os vários sentidos que o termo evoca: sentido empíricopragmáticoprofissional (tornar-se mestre de, ser mestre em); sentido político (mestre e dominação); sentido moral (o domínio das paixões, o domínio de si mesmo).

A palavra maître tem, em francês, o duplo sentido de mestre e senhor, dono, amo. Esta ambiguidade faz do termo mestre uma palavra polissêmica. Quer dizer, quando a usamos devemos situá-la dentro de um contexto, de uma circunstância específica, porque tanto é mestre aquele que se especializou numa profissão, como aquele que apresentou uma dissertação de mestrado, como aquele que comanda outrem. Dessa reflexão, surgem algumas questões: o que é um verdadeiro mestre? Podemos pensar o mestre por excelência? É possível diferenciar entre os mestres "de fato", reais e os falsos?

Magister, o mestre verdadeiro, é aquele que ensina; mas, ao ensinar, ele não pode exercer um domínio, uma força, porque invalida a sua própria essência. Nesse mister, pode-se dizer que há mestre e mestre. Quantos o são no verdadeiro sentido da palavra magister? Quantos são os que apequenam para que o outro cresça? Quantos de nós nos assemelhamos a Sócrates e a Jesus, exemplos de mestria? E foram considerados mestres (por excelência) simplesmente porque não se consideravam como tais. É famosa a frase de Jesus, que cognominado de mestre, disse: "Mestre é só Deus".

O mestre dominus, aquele que domina pela força, encontramo-lo aos montes. E por que há o domínio do homem sobre outro homem? Aqui também convém dizer que há dominus e dominus. Sabemos que nas sociedades organizadas temos necessidade de chefes e de subordinados, alguém que ordena e alguém que obedece. A ordem, porém, não significa que quem manda é superior ao que obedece. Contudo, o termo dominus é usado no sentido pejorativo, ou seja, aquele que manda pelo prazer de mandar, domina pelo prazer de dominar.

O mestre de si mesmo é o terceiro sentido que o termo evoca. Enquanto o magister e o dominus referem-se a um relacionamento com terceiros, este diz respeito a um relacionamento da pessoa para com ela mesma, da mesma forma que fazia Sócrates em sua prática da autoconsciência. É, também, o que Santo Agostinho nos convida a fazer, todas as noites, antes de dormir, ou seja, uma ordenação para repassarmos mentalmente o dia no sentido de verificar como fomos em pensamentos, palavras e ações.

Exercitemos a nossa mestria. Não nos deixemos seduzir pelos falsos discursos, pelas facilidades da vida. Antes, porém, envidemos esforços para entrar pela porta estreita, para sermos os verdadeiros mestres de nós mesmos.

Fonte de Consulta

FOLSCHEID, Dominique e WUNENBURGER, Jean-Jacques. Metodologia Filosófica. Tradução de Paulo Neves. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2002. (Ferramentas)