10 setembro 2006

Filosofia e Religião

Filosofia, por sua própria estrutura verbal — junção das palavras gregas philos e sophia —, que significam "amor à sabedoria", é um apelo ao uso do "logos", da razão. A Religião, pelo seu caráter místico, é um apelo à fé. Como conciliar razão e fé, razão e Deus, razão e crença é o trabalho árduo que muitos pensadores empreenderam ao longo do processo da evolução humana.

A filosofia, tal qual surgiu na Grécia, mostra uma nova maneira de construir o conhecimento, distanciando-o do processo mitológico vigente até então. Partindo da dúvida, da crítica, do paradoxo, quer chegar à verdade das coisas. Em termos religiosos, Sócrates fala-nos do seu "daimon", uma espécie de guia protetor, Platão desenvolve a Teoria da Formas, em que a essência das coisas estaria num outro mundo e Aristóteles instrui-nos sobre o Motor Imóvel, o Criador do universo. 

Como a religião cristã faz o anelo com a filosofia grega? De três maneiras: 1) como a morte de Sócrates foi vista como um martírio, a Igreja cristã julgou-o quase como um cristão pré-cristianismo; 2) os cristãos primitivos, tomando o demiurgo ou "Logos" (o "Verbo") platônico, por meio do qual o mundo é criado e as formas ideais são infundidas ao cosmo em permanente mudança, associaram-no a Jesus, o Verbo (ou "Logos") de Deus"; 3) como Aristóteles acreditava num "Motor Imóvel" (ou "Primeiro Motor"), um ser remoto e imutável que transmite ao mundo a mudança, a Igreja cristã veio a adotar o Motor Imóvel de Aristóteles como Deus cristão. 

Enquanto os cristãos apoiam-se na filosofia grega, as descobertas científicas levam muitos pensadores à negação de Deus e da religião. Assim, para Feuerbach (1804-1872), a religião baseia-se na dependência. Os seres humanos sentem-se impotentes num mundo estranho e por isso precisaram inventar Deus para confortá-los. Para Karl Marx (1818-1883), a religião é o "ópio do povo", algo que trazia uma ilusão de felicidade, mas nenhuma felicidade real, e que levava as pessoas a se concentrar na próxima vida e não nesta. Para Sigmund Freud (1856-1939), a religião é o complexo de Édipo da humanidade, uma ilusão, uma espécie de "neurose obsessiva mundial" cuja origem está nos "tabus", nas proibições.

Posteriormente a esses pensadores ateístas, surgem outros que dão primazia à existência de Deus. Entre eles, citamos Albert Einstein e Kant. Albert Einstein (1879-1955) confessou que era "um homem profundamente religioso". Para ele, o sentimento religioso era "um conhecimento da existência de alguma coisa que não podemos devassar, das manifestações da razão mais profunda e da mais radiante beleza, que só são acessíveis à nossa razão em sua forma mais elementar". Immanuel Kant (1724-1804), embora dando prioridade à filosofia, insistia que a religião tem de estar contida nos limites da razão. Ele escreveu: "É absolutamente necessário estar convencido da existência de Deus; não é igualmente necessário demonstrá-la".

À filosofia e à religião devemos acrescentar a ciência, pois esta é tríade pela qual o pensamento humano deve enveredar para descobrir as verdades que se escondem por detrás dos fatos. 

Fonte de Consulta 

RAEPER, W. e SMITH, L. Introdução ao Estudo das Ideias: Religião e Filosofia no passado e no presente. São Paulo, Loyola, 1997. 

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