A Filosofia, por sua
própria estrutura verbal — junção das palavras gregas philos e sophia —,
que significam "amor à sabedoria", é um apelo ao uso do "logos",
da razão. A Religião, pelo seu caráter místico, é um apelo à fé.
Como conciliar razão e fé, razão e Deus, razão e crença é o trabalho árduo que
muitos pensadores empreenderam ao longo do processo da evolução humana.
A filosofia, tal
qual surgiu na Grécia, mostra uma nova maneira de construir o conhecimento,
distanciando-o do processo mitológico vigente até então. Partindo da dúvida, da
crítica, do paradoxo, quer chegar à verdade das coisas. Em termos religiosos,
Sócrates fala-nos do seu "daimon", uma espécie de guia protetor,
Platão desenvolve a Teoria da Formas, em que a essência das coisas estaria num
outro mundo e Aristóteles instrui-nos sobre o Motor Imóvel, o Criador do
universo.
Como a religião cristã faz o
anelo com a filosofia grega? De três maneiras: 1) como a morte de Sócrates foi
vista como um martírio, a Igreja cristã julgou-o quase como um cristão
pré-cristianismo; 2) os cristãos primitivos, tomando o demiurgo ou
"Logos" (o "Verbo") platônico, por meio do qual o mundo é
criado e as formas ideais são infundidas ao cosmo em permanente mudança,
associaram-no a Jesus, o Verbo (ou "Logos") de Deus"; 3) como
Aristóteles acreditava num "Motor Imóvel" (ou "Primeiro
Motor"), um ser remoto e imutável que transmite ao mundo a mudança, a
Igreja cristã veio a adotar o Motor Imóvel de Aristóteles como Deus cristão.
Enquanto os
cristãos apoiam-se na filosofia grega, as descobertas científicas levam muitos
pensadores à negação de Deus e da religião. Assim, para Feuerbach (1804-1872),
a religião baseia-se na dependência. Os seres humanos sentem-se impotentes num
mundo estranho e por isso precisaram inventar Deus para confortá-los. Para Karl
Marx (1818-1883), a religião é o "ópio do povo", algo que trazia uma
ilusão de felicidade, mas nenhuma felicidade real, e que levava as pessoas a se
concentrar na próxima vida e não nesta. Para Sigmund Freud (1856-1939), a
religião é o complexo de Édipo da humanidade, uma ilusão, uma espécie de
"neurose obsessiva mundial" cuja origem está nos "tabus",
nas proibições.
Posteriormente a
esses pensadores ateístas, surgem outros que dão primazia à existência de Deus.
Entre eles, citamos Albert Einstein e Kant. Albert Einstein (1879-1955)
confessou que era "um homem profundamente religioso". Para ele, o
sentimento religioso era "um conhecimento da existência de alguma coisa
que não podemos devassar, das manifestações da razão mais profunda e da mais
radiante beleza, que só são acessíveis à nossa razão em sua forma mais
elementar". Immanuel Kant (1724-1804), embora dando prioridade
à filosofia, insistia que a religião tem de estar contida nos limites da razão.
Ele escreveu: "É absolutamente necessário estar convencido da existência
de Deus; não é igualmente necessário demonstrá-la".
À filosofia e à
religião devemos acrescentar a ciência, pois esta é tríade pela qual o
pensamento humano deve enveredar para descobrir as verdades que se escondem por
detrás dos fatos.
Fonte de Consulta
RAEPER, W. e SMITH, L. Introdução ao Estudo das Ideias:
Religião e Filosofia no passado e no presente. São Paulo, Loyola, 1997.
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