Na Antiguidade clássica grega, a
filosofia era concebida como "a arte de viver", em que a doutrina (ou
teoria) deveria harmonizar-se com a existência (ou o modo de viver e de
morrer). De acordo com tal definição, o verdadeiro filósofo não é aquele que
cria sistemas de ideias, mas aquele que vive de acordo com o seu pensamento, ou
seja, aquele que procura ardentemente a verdade, independentemente de agradar
ou desagradar aos seus semelhantes.
Sócrates, Platão, Aristóteles e outros
pensadores nos ensinaram que a verdade não pode ser contestada, pois no justo
momento que a estivermos refutando, seremos refutados por ela. O erro pode
proliferar-se por algum tempo, como acontece na parábola do joio e do trigo, contada
por Jesus. Contudo, na época da colheita, o trigo é recolhido e o joio
descartado. Do mesmo modo é a verdade em relação ao erro: não é por crescer em
poder que este se tornará verdadeiro.
A verdade nem sempre está nos fatos,
pois estes podem ser manipulados e adquirir as características de verdadeiro.
A verdade está na percepção do ser que, através de suas lentes interiores, vai
se descobrindo para novas e variadas verdades. Acontece, porém, que nos
portamos como "os olhos do morcego durante o dia". A realidade está à
nossa frente, com toda a sua exuberância e sabedoria. Como não conseguimos
vislumbrá-la na sua totalidade, perdemo-nos nas suas minudências
insignificantes.
A verdade – do
grego aletheia, formada de alpha (privativo)
e lanthano ("escondo") significa o que não
está escondido. Como se explica? Dado o nosso livre-arbítrio, podemos
escolher o caminho do erro, mas chegará o dia em que deveremos nos voltar para
a verdade. Por isso, diz-se que a verdade surpreenderá todo o mundo. É que a
lei de ação e reação forma uma espécie de determinismo em nossa existência. O
ensinamento de Jesus retrata bem esse pensamento: "Não há nada oculto que
não venha à luz". Chegado o momento propício, a verdade inicia a sua
marcha e nada poderá detê-la.
A verdade é o ser das coisas. Aristóteles diz-nos que não conhecemos o verdadeiro sem
conhecer a causa. Cita o exemplo: o fogo é quente no grau máximo
porque é causa do calor nas coisas. Este pensamento de Aristóteles é um
verdadeiro antídoto para as ideologias vigentes, pois estas manipulam o verdadeiro e
substituem-no pelo considerar verdadeiro. Pergunta-se: quem
derrubou a ideologia do marxismo? Não foram outras ideologias, mas a própria
coisa e a realidade, ou seja, a verdade do ser.
Olhemos tudo pela essência que lhe é
própria. A filosofia nada mais é do que essa busca incessante da verdade, no
sentido de melhorarmos a percepção do mundo que nos rodeia.
Fonte de Consulta
REALE, Giovanni. O Saber dos
Antigos: Terapia para os Dias Atuais. Tradução de Silvana Cobucci Leite.
São Paulo: Loyola, 1999.
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