09 setembro 2006

Sobre o Perguntar

Ensinar a pensar é, em suma, ensinar a perguntar.

Sócrates, na antiguidade clássica grega, inaugurou o método — a maiêutica —, que consistia em perguntar. As suas perguntas não tinham a pretensão de encerrar uma questão ou mesmo de ser a última palavra sobre um determinado problema. Seu objetivo era o de aprofundar o tema proposto. Dizia que, à semelhança de sua mãe, que era parteira e ajudava vir à luz uma criança, ele, através das perguntas, fazia vir à luz novas ideias, novos conhecimentos.

A relação ensino-aprendizagem pressupõe perguntar e responder. O professor, ao ensinar, faz perguntas e verifica se o aluno aprendeu aquilo que lhe foi transmitido. Há um condutor, o professor, ao qual o aluno deve obediência. A educação, porém, difere do ensino propriamente dito, embora faça uso dele. Na educação, todos participam do processo de aprendizagem. Na educação verdadeira, o aluno é quem deveria fazer a pergunta e o professor responder. Somos ensinados a responder e não a perguntar.

A resposta, muitas vezes, bloqueia o processo de construção de conhecimento. Quando já sabemos a resposta, não procuramos aprender mais. O comodismo não nos leva à pesquisa e ao debate sobre o tema, pois já o temos como definitivo. Se, porém, nos colocássemos humildemente numa posição de ouvir o outro, ou de aprender com o outro, com certeza estaríamos incentivando a pergunta, venha ela de onde vier.

O que é uma pergunta filosófica? A questão quem sou eu é uma pergunta filosófica? Depende muito da resposta que lhe dermos. Se simplesmente falarmos o nosso nome, a nossa idade, o nosso estado civil, tudo isso em nada contribui para o filosofar. Para que ela seja fundamentalmente uma pergunta filosófica ela tem a ver com a reflexão sobre o nosso modo de ser, o nosso modo de pensar, o nosso modo de tratarmos a nós mesmos e aos outros.

A pergunta é o foco diretor; ela delimita a resposta. Por isso, temos que reaprender a perguntar. Somente assim vamos dando maior legitimidade à nossa necessidade peremptória de viver. É a pergunta vinda de dentro de nós, do nosso âmago que nos traz o prazer de pesquisar, de buscar, de aprender. Há perguntas e perguntas. Convém, de nossa parte, procurar as perguntas relevantes sem, contudo, ter a pretensão de respondê-las totalmente. O importante é perguntar, pois alguém sempre saberá dar a resposta.

O alvo da filosofia é fazer perguntas certas, não descobrir respostas certas. Procuremos em nossos colóquios, em nossas reuniões de ensino, incentivar o surgimento das perguntas por parte daqueles que estão participando conosco.

 

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