Ensinar a pensar é, em suma, ensinar a perguntar.
Sócrates, na antiguidade clássica grega, inaugurou
o método — a maiêutica —, que consistia em perguntar. As suas
perguntas não tinham a pretensão de encerrar uma questão ou mesmo de ser a
última palavra sobre um determinado problema. Seu objetivo era o de aprofundar
o tema proposto. Dizia que, à semelhança de sua mãe, que era parteira e ajudava
vir à luz uma criança, ele, através das perguntas, fazia vir à luz novas
ideias, novos conhecimentos.
A relação ensino-aprendizagem pressupõe perguntar e
responder. O professor, ao ensinar, faz perguntas e verifica se o aluno
aprendeu aquilo que lhe foi transmitido. Há um condutor, o professor, ao qual o
aluno deve obediência. A educação, porém, difere do ensino propriamente dito,
embora faça uso dele. Na educação, todos participam do processo de
aprendizagem. Na educação verdadeira, o aluno é quem deveria fazer a pergunta e
o professor responder. Somos ensinados a responder e não a perguntar.
A resposta, muitas vezes, bloqueia o processo de
construção de conhecimento. Quando já sabemos a resposta, não procuramos
aprender mais. O comodismo não nos leva à pesquisa e ao debate sobre o tema,
pois já o temos como definitivo. Se, porém, nos colocássemos humildemente numa
posição de ouvir o outro, ou de aprender com o outro, com certeza estaríamos
incentivando a pergunta, venha ela de onde vier.
O que é uma pergunta filosófica? A questão quem
sou eu é uma pergunta filosófica? Depende muito da resposta que lhe
dermos. Se simplesmente falarmos o nosso nome, a nossa idade, o nosso estado
civil, tudo isso em nada contribui para o filosofar. Para que ela seja
fundamentalmente uma pergunta filosófica ela tem a ver com a reflexão sobre o
nosso modo de ser, o nosso modo de pensar, o nosso modo de tratarmos a nós
mesmos e aos outros.
A pergunta é o foco diretor; ela delimita a
resposta. Por isso, temos que reaprender a perguntar. Somente assim vamos dando
maior legitimidade à nossa necessidade peremptória de viver. É a pergunta vinda
de dentro de nós, do nosso âmago que nos traz o prazer de pesquisar, de buscar,
de aprender. Há perguntas e perguntas. Convém, de nossa parte, procurar as
perguntas relevantes sem, contudo, ter a pretensão de respondê-las totalmente.
O importante é perguntar, pois alguém sempre saberá dar a resposta.
O alvo da filosofia é fazer perguntas certas, não
descobrir respostas certas. Procuremos em nossos colóquios, em nossas reuniões
de ensino, incentivar o surgimento das perguntas por parte daqueles que estão
participando conosco.
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