As pessoas, em geral, tem uma impressão
negativa da filosofia. Dizem que “a filosofia é a ciência pela qual ou sem a
qual continua tudo igual”, “a filosofia é um saber especulativo inútil, que em
nada contribui com a ciência e o conhecimento”. Há também algo genuinamente
filosófico contado por Platão sobre Tales: "Enquanto observava as
estrelas, olhando para o alto, Tales caiu em um poço. Presenciando o
acontecido, uma espirituosa serva trácia diz-lhe gracejos: ele queria saber o
que havia céu, mas permanecia-lhe oculto o que estava diante dele e a seus
pés".
A filosofia precisa recobrar a sua
originalidade, pois a sua profissionalização nos centros acadêmicos tem sido
indigesta pelos demais seres humanos, principalmente pelas crianças e jovens.
Se os filósofos contemporâneos colocassem o diálogo como centrum da
filosofia eles facilmente substituiriam o caráter sisudo, acadêmico, hierático
e hermético em que filosofia se transformou ao longo do tempo
A sociedade, nos dias atuais,
instrumentalizou-se e não dispõe de tempo para os arroubos filosóficos. O ser
humano está tão preso às aparências e aos formadores de opinião que abdicou do
seu exercício de pensar. Pensar dá trabalho porque temos que romper com o
comodismo e debruçar sobre os problemas que se nos apresentam tentando dar uma
solução racional.
Sócrates, ao praticar naturalmente a
filosofia, tinha um objetivo claro e definido: transformar opiniões em
conceitos que, em outras palavras, é transitar da doxa para a episteme.
A filosofia não é conversação espontânea, pois esta ficaria sujeita apenas à
discussão infindável sobre pontos de vista de um ou do outro litigante. O
objetivo da filosofia é passar dessa opinião aos conceitos claros e límpidos
como bem dizia descartes em seu Discurso do Método.
Olhemos criticamente o ensino da
filosofia. Muitas vezes diz-se que a filosofia é contemplação, reflexão
e comunicação. Isso não é verdade. Essas palavras referem-se mais a uma
técnica do que à filosofia propriamente dita. Observe que contemplar não
é criar, refletir pertence a todo o mundo e comunicar nada
mais faz do que divulgar o consenso. Em outras palavras, a filosofia se utiliza
dessas ferramentas como qualquer outra atividade intelectual.
Em filosofia, deve-se dar ênfase à
discussão e não à exposição. Os participantes de uma reunião filosófica não
devem ser passivos, ficar simplesmente ouvindo os outros. Eles devem também
expressar as suas opiniões para poderem chegar ao conceito. Para tanto, não
devemos nos envergonhar de buscar subsídios com os chamados mortos, tais como
Sócrates, Platão e outros. Auguste Comte, o pai da sociologia, criou a sua
religião natural que não era mais do que uma volta aos ensinos dos grandes
pensadores desde a antiguidade até os dias presentes.
A filosofia é um tesouro oculto que
ninguém poderá nos roubar. É um consolo na falta de tudo o mais, tal como
emprego, família e amigos. Quanto menos coisas exteriores tivermos mais tempo
teremos para nos dedicar às coisas do espírito. Em princípio, não precisaríamos
de mais nada porque, a filosofia, embora faça uso de tudo o mais, basta-se a si
mesma. Seu principal objetivo é fazer o homem voltar-se para dentro de si mesmo
no intuito de conhecer a sua própria ignorância e com isso educar-se para a
vida de relação.
A filosofia é um contínuo perguntar. O
ensino formal favorece mais as respostas do que as perguntas. Contudo, no
âmbito da filosofia, deveríamos ensinar o aluno a perguntar. As perguntas
mostram não só o estado de espírito do aluno como também o torna proativo, no
sentido de ele mesmo buscar o conhecimento de que precisa e não esperando que
venha do outro, o que fez a pergunta e tenta passar as suas informações para
frente. A pergunta também revela uma virtude, ou seja, a virtude da humildade,
porque nos coloca na condição de ouvir o outro, ouvir aquele que supostamente
saiba mais do que nós.
Escolhamos sempre a filosofia como a
nossa orientadora na vida. Cuidemos, contudo, que ela esteja sempre abaixo de
Deus, para que a fé esteja sempre secundada pela razão e não o contrário.
Fonte de Consulta
FÁVERO, Altair Alberto et all.
(Org.) Um Olhar sobre o Ensino de Filosofia. Rio Grande do Sul:
Unijuí, 2002. (Coleção filosofia e ensino)
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Um pequeno diálogo
— O que senhor faz? — indaga o camponês.
— Sou professor de filosofia.
— Isso é profissão?
— Por que não? Acha estranho?
— Um pouco!
— Por quê?
— Um filósofo é uma pessoa que não liga para nada... Não sabia que se
aprendia isso na escola.
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