As obras de Aristóteles — Ética a Nicômaco, Ética a
Eudemo e Magna Moralia — são ainda hoje a referência
mais importante para quem queira estudar e escrever sobre ética. Tanto na Ética
a Nicômaco como na Ética a Eudemo, Aristóteles procura
definir e caracterizar o bem. Em ambas surge a noção de que "o bem do
homem consiste no bom exercício da atividade humana". E qual é essa
atividade? É atividade da alma racional, da razão, atividade esta que é
disposta de acordo com a virtude.
Antes de penetrarmos no tema felicidade, entendamos o significado de
virtude: será ela uma paixão? Uma faculdade? Ou uma disposição? Paixão não é,
pois o medo e o ódio nunca podem ser considerados virtudes. Faculdade, também
não, pois uma faculdade tanto pode ser posta ao serviço do bem quanto do mal.
É, na realidade, o resultante duma disposição voluntária. Assim, para
Aristóteles, a virtude é um extremo na excelência, mas é uma posição média
entre dois vícios, um por excesso e outro por falta.
A felicidade seria o prazer, a diversão, a honra? O que é que
caracteriza o bem ou a felicidade? Para Aristóteles, a felicidade é o maior bem
do homem e identifica-se com o viver bem e o fazer o bem. Não é prazer, nem
diversão e nem mesmo honra. A felicidade estaria centrada no estudo teórico.
Somente este tem o condão de proporcionar a felicidade, pois a pessoa que
empreende o estudo teórico, empreende-o por conta própria, sem outro móvel que
não seja o de estudar e o de continuar a estudar.
Vida feliz pressupõe tempo livre. As pessoas que estão voltadas
essencialmente para o sustento físico não podem ser felizes, porque lhes falta
o tempo livre e necessário para cuidarem de suas almas e disporem suas ações
para os objetivos superiores da existência humana. Às vezes, a sorte ajuda no
processo da felicidade, mas a felicidade em si não depende da sorte. A
felicidade é um sentimento intrínseco da ação realizada. Não é a influência
externa; é o bem que se fundamenta em si mesmo.
De nada adianta buscarmos coisas que estão fora de nós mesmos. Podemos,
muitas vezes, agradar aos outros, mas desagradarmos a nós mesmos. Isso deve ser
evitado. Observe que no livro Política, Aristóteles disse que a
virtude ou as boas ações poderiam ser tanto particulares quanto sociais. Definindo
o homem como um animal político, quis dizer que todos os homens devem ser
solidários uns com os outros. A solidariedade se realiza na cidade. Para tanto,
o interesse social deve vir antes do interesse particular. Surge a questão:
podemos ensinar a virtude? Ela é passível de ser aprendida?
A virtude é ensinada pela educação, tornando-se com o tempo um hábito,
uma segunda natureza. Essa segunda natureza é uma forma especial de fazer as
coisas. E, uma vez adquirido, não se perde jamais. Observe que quando
estivermos exercitados numa dada virtude, nada nos fará mudar de atitude.
Alguém nos pede para fazermos algo que contrarie a nossa razão e a nossa ética.
De imediato, recusamos o pedido. Para os outros pode ser uma ação banal, mas
para o exercício da virtude é uma tarefa hercúlea que exige muito esforço da
vontade, no sentido de continuarmos sendo o que somos, independentemente da
avaliação alheia.
Estudemos os grandes pensadores da humanidade. Sempre poderemos
acrescentar algo ao nosso passivo intelectual e moral.
Fonte de Consulta
MARQUES, Ramiro. O Livro das
Virtudes de Sempre: Ética para os Professores. Portugal: Landy, 2001.
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