09 setembro 2006

São Vitor e o seu Didascálion

Hugo de São Vitor, filósofo, teólogo, exegeta, místico, gramático, criador da Escola de São Vitor, em Paris, por volta de 1127, é o eminente escritor do livro Didascálion — A Arte de Ler, traduzido por Antonio Marchionni. Nesse livro, ele traça um programa de autoconhecimento, baseado na busca da Sapiência, o melhor método para se educar eficazmente. Vejamos alguns de seus ensinamentos. 

Didascálion significa “coisas concernentes à escola”. A sua didática é criar condições favoráveis para se adquirir a sapiência. Embora traduzimos sapiência por sabedoria, esta palavra não retrata fielmente o significado que Hugo lhe empresta. Deveria ser traduzida por Mente Divina, Verbo, Logos, Pensamento Divino. Isto porque, “tudo o que o homem quer saber sobre si mesmo está lá, na sua origem, no seu arquétipo, na sua forma boa, ou seja, na Sapiência”

Como o homem chega à Sapiência? Para Hugo de São Vitor, isso se faz em 5 etapas bem definidas: 1.ª) Leitura; 2.ª) Meditação; 3.ª) Oração; 4.ª) Prática; 5.ª) Contemplação. A leitura serve para buscar os conhecimentos, os motivos, os estímulos para a reflexão; a meditação é um discernimento crítico do que se leu; a oração serve para nos fortalecermos em Deus para o agir; a prática é o exercitar-se no bem; por último, a contemplação é a etapa de realimentação para o bem agir.

O que nos diz sobre a escola? Começa nos dizendo que a palavra escola tem sua origem na palavra otium, que pode ser traduzido como: a) não ação, repouso, tempo livre; b) dedicação aos estudos e à expansão da consciência. Observe que otium é, em grego, skholé, que significa pausa, parada, repouso e também colóquio científico, leitura, recitação. Deste último significado a skholé passa a indicar o lugar onde o mestre lê, dá lição, onde se discute, se pensa. Para São Vitor, Otium, é quietude exterior da vida para dedicar-se aos estudos dignos e úteis. O otium representa a verticalidade da vida, o artístico, o religioso, o cultural.

São Vitor pode ser considerado um verdadeiro mestre. Ele demonstra como é importante começar, inicialmente, por um ato de reverência a Deus no sentido de preparar o espírito para o estudo sério. No estudo lembrava ao discípulo a ruminação, a digestão lenta e vagarosa dos novos conhecimentos. Imaginamos que à semelhança de Descartes, ele não pedia aos seus alunos para buscar incessantemente a verdade, mas, ao contrário, que cada procurasse abrir-se à verdade. A sua personalidade contagia de modo saudável todos os que lhe têm contato.

Leiamos, reflitamos e contemplemos. Este é o verdadeiro tripé para forjarmos nossa alma na prática do bem e da virtude. Adquiramos o hábito de perguntar a nós mesmos e, lá no fundo de nossa consciência, teremos as respostas para as nossas dúvidas. 

Fonte de Consulta

SÃO VITOR, Hugo de. Didascálion: Da Arte de ler. Tradução por Antonio Marchionni. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001. 

 

 

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