Hugo de São Vitor, filósofo, teólogo, exegeta,
místico, gramático, criador da Escola de São Vitor, em Paris, por volta de
1127, é o eminente escritor do livro Didascálion — A Arte de Ler,
traduzido por Antonio Marchionni. Nesse livro, ele traça um programa de
autoconhecimento, baseado na busca da Sapiência, o melhor método
para se educar eficazmente. Vejamos alguns de seus ensinamentos.
Didascálion significa
“coisas concernentes à escola”. A sua didática é criar condições favoráveis
para se adquirir a sapiência. Embora traduzimos sapiência por sabedoria, esta
palavra não retrata fielmente o significado que Hugo lhe empresta. Deveria ser
traduzida por Mente Divina, Verbo, Logos, Pensamento Divino. Isto porque, “tudo
o que o homem quer saber sobre si mesmo está lá, na sua origem, no seu
arquétipo, na sua forma boa, ou seja, na Sapiência”.
Como o homem chega à Sapiência? Para
Hugo de São Vitor, isso se faz em 5 etapas bem definidas: 1.ª) Leitura;
2.ª) Meditação; 3.ª) Oração; 4.ª) Prática;
5.ª) Contemplação. A leitura serve para buscar os conhecimentos, os
motivos, os estímulos para a reflexão; a meditação é um discernimento crítico
do que se leu; a oração serve para nos fortalecermos em Deus para o agir; a
prática é o exercitar-se no bem; por último, a contemplação é a etapa de
realimentação para o bem agir.
O que nos diz sobre a escola? Começa
nos dizendo que a palavra escola tem sua origem na palavra otium,
que pode ser traduzido como: a) não ação, repouso, tempo livre; b) dedicação
aos estudos e à expansão da consciência. Observe que otium é,
em grego, skholé, que significa pausa, parada, repouso e também
colóquio científico, leitura, recitação. Deste último significado a skholé passa
a indicar o lugar onde o mestre lê, dá lição, onde se discute, se pensa. Para
São Vitor, Otium, é quietude exterior da vida para dedicar-se aos
estudos dignos e úteis. O otium representa a verticalidade da
vida, o artístico, o religioso, o cultural.
São Vitor pode ser considerado um verdadeiro
mestre. Ele demonstra como é importante começar, inicialmente, por um ato de
reverência a Deus no sentido de preparar o espírito para o estudo sério. No
estudo lembrava ao discípulo a ruminação, a digestão lenta e vagarosa dos novos
conhecimentos. Imaginamos que à semelhança de Descartes, ele não pedia aos seus
alunos para buscar incessantemente a verdade, mas, ao contrário, que cada
procurasse abrir-se à verdade. A sua personalidade contagia de modo saudável
todos os que lhe têm contato.
Leiamos, reflitamos e contemplemos. Este é o
verdadeiro tripé para forjarmos nossa alma na prática do bem e da virtude.
Adquiramos o hábito de perguntar a nós mesmos e, lá no fundo de nossa
consciência, teremos as respostas para as nossas dúvidas.
Fonte de Consulta
SÃO VITOR, Hugo de. Didascálion: Da
Arte de ler. Tradução por Antonio Marchionni. Petrópolis, Rio de Janeiro:
Vozes, 2001.
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