Platão, no livro VII de A República,
descreve, em forma de diálogo, a "Alegoria da Caverna". Ele coloca,
desde a infância, alguns homens com o pescoço e as pernas presos de modo que
permanecem imóveis e só veem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas
cadeias, não podem voltar o rosto. Tudo o que veem são sombras do mundo real. A
partir de um certo momento, um deles (o filósofo) se vira e vai ao encontro da
luz (conhecimento). Uma vez adquirido o conhecimento, sente-se no dever de
voltar ao antro escuro e auxiliar os que lá ficaram. Contudo, será
incompreendido.
O que se pode extrair deste texto? A
caverna mostra a nossa ignorância, a nossa vida voltada para as coisas
materiais, para tudo o que é sensível. Para nos libertarmos desse status
quo, convém estimular o nosso interesse pelo mundo novo, por novas ideias.
Essa busca, entretanto, exige um esforço por parte do aprendiz, no sentido de
este focar as coisas mais excelsas de uma realidade espiritual. Não basta
apenas procurar; necessário que se saiba o que procurar.
Para uma boa compreensão desse relato
mítico, lembremo-nos de que Platão sempre se referia a um mundo das ideias, das
essências, localizado no topus uranus, de onde a alma
vem para fazer a sua caminhada terrestre. Essa busca do outro mundo, daquilo
que não se vê materialmente, fundamenta a sua teoria das ideias. Neste relato
há também um fator pedagógico: a educação do ser humano deve enfatizar a
obtenção das virtudes, do sumo bem, fatores relevantes da ascensão espiritual.
Conscientizar o ser humano de sua
ignorância é o ponto central da verdadeira educação. Às vezes nos demoramos nos
prazeres do mundo material e desviamo-nos de nossa meta, daquilo para o qual a
nossa alma foi talhada, comprometida. Como é fácil propender para esse desvio,
pois há uma avalanche de sugestões à cobiça, à sensualidade, à busca do poder e
de prestígio, a educação deve ser constante. Assemelha-se ao "orai e
vigiai" que tanto Jesus nos aconselhou em suas predicas evangélicas.
A caverna mostra também a necessidade
de extirparmos aquilo que de ruim existe em nós. Como podemos nos modificar se
não temos consciência do lodo que há dentro de nós? Como obtermos a luz se há
prazer em ficarmos no escuro? Não importa se este lampejo vem-nos através da
dor, do desespero ou da decepção. Cabe-nos, sim, entronizar o ocorrido e
procurar a transformação para o bem, para o justo, para o correto. Por isso, o
cuidado que devemos ter com o teor de nossos pensamentos mais íntimos. Eles são
as molas propulsoras de nossas ações.
Saiamos da caverna e busquemos a luz,
não qualquer luz, mas somente aquela que possa auxiliar a nossa caminhada
espiritual rumo à perfeição do nosso espírito imortal.
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