07 setembro 2006

Ideia e Pensamento

Os filósofos gregos da antiguidade, entre os quais Sócrates, Platão e Aristóteles, forneceram-nos as duas grandes teorias filosóficas: racionalismo e empirismo. Os racionalistas sustentavam que as ideias do homem eram inatas, sendo que a experiência servia apenas para despertá-las na consciência; os empiristas afirmavam que o espírito não tem ideias próprias, e por isso contemplava o mundo através das janelas dos sentidos. A Filosofia é, através dos tempos, uma discussão entre as várias formas dessas duas grandes vertentes do pensamento.

Os filósofos medievais, principalmente Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, acrescentaram ao conhecimento pela razão e ao conhecimento pelo sentido, o conhecimento revelado por Deus através da fé. Assim, conquanto os filósofos cristãos aceitassem a verdade dupla — uma pela pesquisa e a outra pela fé —, é evidente que se julgava o conhecimento originário da revelação divina superior ao oriundo da experiência. O resultado natural era que a razão humana estava sendo constantemente corrigida pela Igreja. Quer dizer, qualquer esforço do pensamento humano era insuficiente para suplantar a autoridade da Igreja, a detentora da verdade.

À medida que o homem começou a adquirir confiança em si, colocou em cheque a autoridade divina da Igreja. Galileu, por exemplo, dizia que todas as ideias devem apoiar-se em observações e experiências. Francis Bacon, por seu turno, alertava aos homens para se desembaraçarem dos ídolos ou preconceitos e falsos pontos de vista e observassem o mundo atentamente. Descartes, em sua lucubração filosófica, achava que o indivíduo devia partir de premissas que não podiam ser contestadas. Estabeleceu, assim, o princípio fundamental do pensamento, que todas as ideias verdadeiras devem ser claras e distintas.

Apesar da ingerência da Igreja, no sentido de firmar o conhecimento pela revelação, o progresso da Filosofia continuou com a luta entre racionalistas e empiristas. Locke dizia que todas as ideias vêm ao indivíduo através da experiência dos sentidos. Para ele, o espírito é uma tabuinha em branco, em que marcam os caracteres da existência. Berkeley, discordou de Locke dizendo que não podemos conhecer coisa alguma além daquilo que esteja no espírito. David Hume, discordando de Locke e Berkeley, diz que temos ideias, mas não sabemos de onde elas vêm. Leibnitz, por sua vez, discordou de Locke, Berkeley e Hume, afirmando que a mônada é autônoma e não pode ser afetada ou influenciada de fora.

Além dos filósofos citados acima, somam-se os contributos de Kant, Fichte, Hegel, Comte, Mill, Spencer e outros. Acontece que muitos pensadores modernos, sob a influência da Psicologia, passaram da teoria do conhecimento para o estudo do próprio pensamento. William James afirma ser o pensamento um instrumento e não ser melhor que o seu serviço que presta numa situação. Para John Dewey, o homem não pensa, a menos que tenha um problema para resolver. Simples fantasias passageiras, devaneios e coisas semelhantes não representam pensamento, no sentido verdadeiro do termo.

Embora a filosofia moderna siga as pegadas dos pragmatistas, isto é, discuta sobre o pensamento apenas por aquilo que ele possa fornecer de utilidade para a resolução de um problema, nada nos impede de questionar como surgem e desaparecem os pensamentos de nossa cabeça.



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