O mundo do trabalho é caracterizado pela produção. É um fazer
ininterrupto de coisas com o propósito de aumentar o bem-estar da humanidade.
Daí o desejo insaciável que nos estimula a consumir cada vez mais. Como
somos homo faber antes de sermos homo sapiens, acabamos
dando ao trabalho o fim último de nossa existência. No mundo do trabalho, a
tecnologia e a economia de escala são requeridas insistentemente, e acabam nos
aprisionando cada vez mais a este mundo material. Em muitos casos, a
preocupação excessiva com o que comer e com o que vestir leva-nos a um
esgotamento nervoso.
O que diferencia o "útil" do "inútil"? O útil é
sempre meio, intermediário. Ele não vale por si mesmo, mas pelo poder de
intermediação. Uma cadeira é útil porque foi criada para as pessoas sentarem.
Ela não é útil a si mesma, ou seja, ela não se senta nela. A palavra inútil,
por sua vez, significa: 1) que não tem fim algum; 2) que tem um fim em si
mesmo. Entre as atividades que têm um fim em si mesmo, anotamos a filosofia, a
arte e a religião. Todas compreendem uma espécie de gozo metafísico do
Espírito.
A filosofia transcende o mundo do trabalho. A filosofia se atém ao
"bem comum" enquanto o trabalho à "utilidade comum". O bem
comum é muito mais amplo do que a utilidade comum, pois engloba a totalidade do
ser. A filosofia, embora inútil, não vive sem o mundo do trabalho. Há uma certa
complementaridade entre esses dois conceitos. Santo Tomás de Aquino dissera
certa vez que para haver o bem comum há necessidade de haver pessoas que se
dediquem à arte do inútil e da contemplação, atividades essas completamente
opostas às requeridas pelo mundo do trabalho.
A pseudofilosofia pretende também transcender o mundo do trabalho. Em
Platão, Sócrates pergunta ao sofista Protágoras: "Que ensinas aos jovens
que se achegam a ti"? E Protágoras responde: "O objeto de meu ensino
é a prudência, quer na administração da própria casa, quer no modo de melhor
influir na coisa pública, pela palavra ou pela ação". Todas essas
pseudo-atitudes não só não transcendem como acabam enclausurando ainda mais as
pessoas ao mundo do trabalho.
Embora o inútil seja uma atividade totalmente livre, muitos acabam sendo
condenados a buscá-la. Observe que algumas pessoas, por mais que queiram tratar
das coisas materiais, são impulsionadas por uma força superior, a tratar
exclusivamente das coisas relacionadas à melhoria do pensamento, sem outro
qualquer interesse. No atendimento a esta nobre missão, acabam sendo
incompreendidos e desprezados pelos outros seres humanos. Jesus Cristo, por
exemplo, foi um desses incompreendidos, que veio nos ensinar a lei do amor e
nós o condenamos a morrer na cruz, entre dois ladrões.
Atendamos fielmente às nossas predisposições interiores. Seguir os
apelos da consciência pode nos trazer muitos problemas. Contudo, vejamos a
consequência de cada ação para a vida futura. Lembremos: Se o homicida
soubesse, de antemão, as dores que o futuro lhe reserva, com certeza não
praticaria tamanho crime.
Fonte de Consulta
PIEPER, Josef. Que é Filosofar?;
Que é Acadêmico? Tradução de Helmuth Alfredo Simon. São Paulo: EPU,
1981.
3 comentários:
Boa noite, seu texto é ótimo. Mas ainda não entendi o que é o mundo do trabalho... Você pode me explicar?
O mundo do trabalho refere-se à produção, ou seja, construir casas, plantar árvores, implantar indústrias etc.
Verdade
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