Para Maquiavel, a moderação é necessária, mas a bondade
sistemática compromete a ordem da sociedade, produzindo danos maiores do que o
uso da violência. “Certamente, o ideal, para o príncipe, seria ser ao mesmo
tempo amado e temido, mas na prática as duas coisas não são facilmente
conciliáveis. Quem governa o Estado, portanto, deve decidir a cada vez com base
na oportunidade. Em todo caso, o que não deve fazer é submeter as práticas de
governo às normas que regem a ética individual”.
Para Voltaire, o fanatismo é uma apologia da alma e,
portanto, não deve se combatido. Enfrentar um fanático, fazendo-o entender,
pela lógica, a inconsistência de suas teses, é perda de tempo e pode agravar o
mal. “Superstição e preconceitos não podem ser desmentidos com argumentações
lógicas, porque não nascem no terreno da razão. Resta a risada como único
remédio nos casos extremos, o gracejo capaz de desmontar a agressividade. Mas
isso nem sempre é possível e permanece sem resposta o problema que conclui o
trecho: o que fazer quando um fanático tenta degolar-vos porque está convencido
de que esta é a vontade de Deus?”
Para Kant, a paz mundial de todas as nações do mundo só
seria possível se estas se reunissem numa federação unitária de Estados livres
e instaurasse um direito internacional fundado numa constituição liberal no
nível planetário. “Apesar da impossibilidade de eliminar o antagonismo presente
nas relações humanas, a paz perpétua e a coexistência pacífica entre os povos
são possíveis e realizáveis desde que se estendam no nível internacional os
princípios de justiça social elaborados pelas constituições em vigor nos
Estados liberais”.
Para Hegel, criticando Kant, nunca poderia existir uma república
da humanidade, posto que não existe um espírito da humanidade, mas somente um espírito
dos povos. Acha que “A soberania política deve residir exclusivamente no estado
nacional, e dado que as nações, entre si, se encontram numa condição natural, de ausência de qualquer forma
de contratualidade recíproca, resulta que a guerra continua sendo o único modo
de resolver as divergências. Todavia, não somente a guerra é inevitável; ela
também é necessária à saúde espiritual dos povos, cuja união (autoconsciência) se
fortalece definindo-se por oposição ao inimigo”.
Para Freud, a agressividade deve ser inclusa entre os dons
instintivos do homem – e, portanto, não elimináveis. “O desenvolvimento da civilização
certamente impôs um autocontrole cada vez maior, fazendo com que o indivíduo
moderno consiga vigiar sua própria conduta de modo muito mais rígido do que no
passado. Tudo isso, porém, não é fruto de um crescimento geral, de uma mutação do
homem em sentido pacifista, mas de pura e simples auto-repressão interior”.
Fonte de Consulta
NICOLA, Ubaldo. Antologia
Ilustrada de Filosofia: das Origens à Idade Moderna. Tradução de Margherita
De Luca. São Paulo: Globo, 2005.
3 comentários:
e para você, o que é a paz, não o que pensa dela, mas..o que sente dela, quando ela se manifesta na sua vida?
Os pontos de vista citados refletem apenas o autoconhecimento humano de até o século 19; todos ignoram que o SER humano é produto de uma construção coletiva pelo conjunto de escolhas pessoais.
Alguns pensadores citados não conseguem sequer extrapolar os imediatismos pessoais. Maquiavel argumenta exclusivamente pelo ponto de vista do homem que ambiciona exercer poderes sobre os semelhantes. Freud parece conhecer apenas as almas dos vienenses ricos perturbados. Hegel, dizendo que a autoconsciência nasce necessariamente do conflito, profere a maior estupidez da história; cassem o título de filósofo dele, por favor.
Kant consegue enxergar alguns palmos além do nariz e propõe uma utopia sensata. Se não nos limitarmos à sabedoria da fase de afirmação do intelecto (período dos greco-romamos à ciência cartesiana), e buscarmos no Cosmo um sentido para nossa vida, podemos aceitar que Kant propõe um caminho para a superação das misérias humanas atuais, tão lógico que, ao que me parece, na atualidade orienta a caravana das nações rumo a uma futura realidade sem violência física ou psicológica, como almejam os mestres da Gnose ancestral.
Paz é um sonho possível que não podemos deixar morrer!!!
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