O tema tem uma interrogação que requer uma
explicação. A pergunta refere-se a "um" mestre e não a "o"
mestre (por excelência). Dessa forma, para bem pensar sobre este assunto,
devemos buscar os vários sentidos que o termo evoca: sentido empírico, pragmático, profissional (tornar-se
mestre de, ser mestre em); sentido político (mestre e
dominação); sentido moral (o domínio das paixões, o domínio de
si mesmo).
A palavra maître tem, em francês, o duplo sentido de mestre e
senhor, dono, amo. Esta ambiguidade faz do termo mestre uma palavra
polissêmica. Quer dizer, quando a usamos devemos situá-la dentro de um
contexto, de uma circunstância específica, porque tanto é mestre aquele que se
especializou numa profissão, como aquele que apresentou uma dissertação de mestrado,
como aquele que comanda outrem. Dessa reflexão, surgem algumas questões: o que
é um verdadeiro mestre? Podemos pensar o mestre por excelência? É possível diferenciar
entre os mestres "de fato", reais e os falsos?
Magister,
o mestre verdadeiro, é aquele que ensina; mas, ao ensinar, ele não pode exercer
um domínio, uma força, porque invalida a sua própria essência. Nesse mister,
pode-se dizer que há mestre e mestre. Quantos o são no verdadeiro sentido da
palavra magister? Quantos são os que apequenam para que o outro
cresça? Quantos de nós nos assemelhamos a Sócrates e a Jesus, exemplos de
mestria? E foram considerados mestres (por excelência) simplesmente porque não
se consideravam como tais. É famosa a frase de Jesus, que cognominado de
mestre, disse: "Mestre é só Deus".
O mestre dominus, aquele que domina pela força, encontramo-lo aos
montes. E por que há o domínio do homem sobre outro homem? Aqui também convém
dizer que há dominus e dominus. Sabemos que nas sociedades organizadas temos
necessidade de chefes e de subordinados, alguém que ordena e alguém que
obedece. A ordem, porém, não significa que quem manda é superior ao que
obedece. Contudo, o termo dominus é usado no sentido pejorativo, ou seja,
aquele que manda pelo prazer de mandar, domina pelo prazer de dominar.
O mestre de si mesmo é o terceiro sentido que o termo evoca. Enquanto
o magister e o dominus referem-se a um relacionamento com terceiros,
este diz respeito a um relacionamento da pessoa para com ela mesma, da mesma
forma que fazia Sócrates em sua prática da autoconsciência. É, também, o que
Santo Agostinho nos convida a fazer, todas as noites, antes de dormir, ou seja,
uma ordenação para repassarmos mentalmente o dia no sentido de verificar como
fomos em pensamentos, palavras e ações.
Exercitemos a nossa mestria. Não nos deixemos
seduzir pelos falsos discursos, pelas facilidades da vida. Antes, porém,
envidemos esforços para entrar pela porta estreita, para sermos os verdadeiros
mestres de nós mesmos.
Fonte de Consulta
FOLSCHEID, Dominique e WUNENBURGER,
Jean-Jacques. Metodologia Filosófica. Tradução de Paulo
Neves. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2002. (Ferramentas)
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