A palavra filosofia, pelo fato de ser usada sob
diversos ângulos, acabou perdendo o seu significado original. É preciso, pois,
buscar o seu verdadeiro conceito, ou seja, a philosophia dos
gregos que, enquanto palavra grega, é um caminho. Nesse sentido, a palavra
grega philosophia é um caminho sobre o qual estamos a caminho.
Quer dizer, há sempre uma procura renovada do arche, da ratio,
do ti estin.
O espanto é o primeiro signo da philosophia grega.
Esse espanto, denominado pathos, não está simplesmente no começo da
filosofia. O espanto carrega a Filosofia e impera em seu interior. Traduzimos
habitualmente a palavra pathos por paixão, turbilhão afetivo.
Mas pathos remonta à paschein, sofrer, agüentar,
suportar tolerar, deixar-se levar por, deixar-se con-vocar por. É uma
dis-posição interior na qual o indivíduo se detém ante a grandeza do universo.
Assim sendo, espanto é a dis-posição na qual e para qual o ser do ente se abre.
O espanto deve ter necessariamente uma
cor-respondência, ou seja, res-ponder ao que foi perguntado. "Corresponder"
significa ser dis-posto. Enquanto dis-posta e con-vocada a correspondência é
essencialmente uma dis-posição. Por isso, o nosso comportamento é cada vez
dis-posto desta ou daquela maneira. A dis-posição não é um concerto de
sentimentos que emergem casualmente, que apenas acompanham a correspondência. A
correspondência deve ser essencialmente dinâmica, sempre em vias de ser
construída, de ser processada.
A "destruição" deve fazer parte do
esforço para apreender o real significado da palavra philosofia. A
"destruição" não representa uma ruptura com a história, nem uma
negação da história, mas uma apropriação e transformação do que foi
transmitido. Assim sendo, destruição não significa ruína, mas desmontar,
demolir, por-de-lado. Quer dizer, destruição é abrir os nossos ouvidos,
torná-los livres e dóceis à inspiração do ser do ente. Somente assim
conseguiremos nos situar na perfeita correspondência com o que a palavra philosophia expressa.
O espanto é, enquanto pathos, a arche da
Filosofia. Arche designa aquilo de onde algo surge. Buscar
a arche da Philosophia é situar-se dentro do espírito pelo
qual os gregos consideravam a Filosofia. Os gregos não o faziam através das
emoções, dos sentimentos, mas usavam o logos, a ratio.
Em outras palavras, queriam ter certeza de que conheciam o que conheciam. É por
esta razão que Sócrates usava a sua famosa maiêutica, ou seja, colocar em
dúvida o conhecimento vigente, para aprofundá-lo e descobrir novas verdades.
Lembremo-nos de que é somente através de estudos constantes
e reflexões profundas que conseguiremos penetrar no âmago do conhecimento
verdadeiro.
Fonte de Consulta
HEIDEGGER, M. Que É Isto – A Filosofia? Identidade e Diferença.
São Paulo, Duas Cidades, 1971.
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