O tema vem a calhar, pois sentimo-nos
diminuídos diante de um autor que editou mais de cem livros. Perguntamo-nos:
como ele consegue fazer tanto e eu nada? Esta seria a pergunta relevante? Não
estamos confundindo quantidade com qualidade? Suponhamos que ele componha
estórias de amor e outras futilidades. Será que, por ele ter perdido tempo
compondo-as, devemos nós perder o nosso para lê-las? É preciso cuidado. O que
interessa extrair de um escrito? Algo que nos ajude a pensar melhor.
O que se entende por pensar? Pensar vem
do latim sopesar e significa ponderar, avaliar, refletir. A metodologia filosófica lembra-nos de que não devemos conhecer por
conhecer, mas conhecer para pensar; sugere-nos que devemos ruminar tudo aquilo
que nos passa diante dos olhos, para que possamos construir o nosso próprio
raciocínio. Temos a obrigação não só de conhecer os autores que nos precederam,
mas também lhes sugar o que melhor produziram. Apropriar-se de um conhecimento
alheio não é parafraseá-lo, mas construir solidamente aquele raciocínio como se
fosse nosso.
A palavra escrever,
em sentido comum, é colocar no papel o que está primeiro no cérebro. Num
sentido mais amplo, podemos dizer que é a expressão do discurso do
ser humano. Ou seja, nós só podemos colocar no papel aquilo que se encontra
dentro de nós próprios. Se componho estórias de amor, é porque elas já existem
em potência no meu psiquismo. Em outras palavras, os meus escritos revelam a
maneira que eu sou. Se sou despótico, pessimista, violento, terei a tendência
de passar isso para o papel; se sou bondoso, amante da verdade e da justiça,
farei o contrário.
Os livros, em sua maioria, auxiliam a
pensar? Temos dúvida. Muitos trazem informações, outros contam estórias, outros
descrevem biografias, outros são pornográficos. Eles, em si mesmos, não dizem
muita coisa. Vale mais a maneira que os lemos. Se tivermos um objetivo determinado,
tiraremos proveito até do pior dos livros. Contudo, para ajudar a pensar, o
autor deve se expressar claramente no sentido de sugerir uma reflexão, uma
mudança de comportamento. Nesse mister, Einstein já nos dizia que "quem lê
demais e usa o cérebro de menos adquire a preguiça de pensar". Temos de
fazer nosso o motivo da reflexão.
Como, porém, tornar um texto apto à
reflexão filosófica? Em primeiro lugar a disposição: se o texto não estiver
legível e bem distribuído nas páginas, o leitor poderá abandoná-lo tão logo o
pegue para ler. Observe quando nos pedem para ler alguma coisa. Os nossos olhos
procuram sintetizar e colocar títulos para melhor dispor o próprio pensamento.
É isso o que devemos fazer para o leitor. Em segundo lugar, o texto deve enunciar
ou sugerir uma mudança de atitude. Por que? Por que na raiz da palavra
aprendizagem está a mudança de comportamento.
Estejamos sempre atentos. Para bem
viver nós não precisamos de muitas informações e nem de muitas leituras. Basta
que elas sejam essenciais ao nosso crescimento moral e espiritual.
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