30 outubro 2025

Começo da Filosofia

Saber é saborear 

A palavra grega que designa o “sábio” prende-se etimologicamente a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem do gosto mais apurado, um apurado degustar e escolher, um significativo discernimento constitui, pois, segundo a consciência do povo, a arte própria do filósofo. (Friedrich Nietzsche, A Filosofia na Época Trágica dos Gregos)

Tal comida ou bebida sabe a um determinado gosto. Saborear significa distinguir de outras coisas, separando-as para analisá-la. Ao analisar, decompomos em seus elementos, caracterizando-os, classificando-os, determinando-os, diferenciando uns dos outros, discernindo-os. A frase “saber é saborear” conecta-se ao início da filosofia porque expressa o mesmo impulso que a originou: o amor, o prazer e o encanto pelo conhecimento.

No princípio, era (= é) o espanto

O espanto, é, como pathos, a arkhé da filosofia. Devemos compreender, em seu pleno sentido, a palavra grega arkhé. Designa aquilo de onde algo surge. Mas este “de onde” não é deixado para trás no surgir; antes, a arkhé torna-se aquilo que é expresso pelo verbo arkhein, o que impera. O pathos do espanto não está simplesmente no começo da filosofia, como por exemplo, o lavar das mãos precede a operação do cirurgião. O espanto carrega a filosofia e impera em seu interior. (Martin Heidegger. Que é Isto – a Filosofia?)

A expressão “no princípio era o espanto” remete à ideia de que a filosofia nasce da admiração diante do mundo. Os primeiros pensadores gregos começaram a filosofar porque se maravilhavam e se intrigavam com o que viam — o céu, a natureza, a vida, o ser humano. O espanto é a origem da filosofia, porque só quem se admira e se surpreende começa a pensar e a buscar o saber. Além do mais, o espanto ao mesmo tempo dá origem ao filosofar e nele permanece, continuando a determiná-lo ele perpassa qualquer passo da filosofia, diz Heidegger.

Fonte de Consulta

GOTO, Roberto. Começo da Filosofia. Campinas, SP: Editora Átomo, 2000

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