Título: O Estoicismo
Autor: George Stock
Tradução de Edson Bini
São Paulo: Edipro, 2022.
Apresentação
A impressão que se tem é que
George Stock se empenhou em escrever algo isento de um jargão acadêmico que somente
beneficiaria estudantes de faculdades de filosofia e seus pares.
Apesar de ser um confessado peripatético, o que o leva a instaurar uma postura inicialmente crítica face ao estoicismo, ele efetivamente reconhece e faz justiça ao importante legado deixado pela escola estoica.
Introdução
Como o autor tratou do
estoicismo grego, Edson Bini prontifica-se a fazer algumas considerações sobre
o estoicismo romano, principalmente na figura de Epicteto.
O estoicismo surgiu no século
III a.C. em Atenas e, no que diz respeito às disciplinas filosóficas,
diferenciava-se consideravelmente das escolas filosóficas dominantes da época,
quais sejam, a Academia (Platão), o Liceu (Aristóteles) e o Jardim (Epicuro).
Suas disciplinas são a física
(filosofia da natureza), a epistemologia (atrelada à lógica), a retórica e a
dialética (atreladas à política) e a ética, que recebe ênfase.
O estoicismo herdado dos gregos
pelos romanos a partir do primeiro século da era cristã retém essencialmente
esse perfil e, decerto é fiel igualmente aos princípios doutrinários do
pensamento estoico helênico, mas, por conta do nítido espírito pragmático dos
romanos, pouco dados às especulações abstratas que foram apanágio dos gregos,
restringe ainda mais a esfera da filosofia, convertendo-a, na prática, a um
pragmatismo ético humanista.
Epicteto nada escreveu. Coube
ao seu devotado discípulo Flávio Arriano a redação de seus ensinamentos. O
estoicismo de Epicteto está centrado na ética, e seus princípios éticos dizem
respeito especificamente à conduta humana na vida em comunidade.
[Sêneca, Epicteto e Marco
Aurélio]
O Estoicismo
Prefácio
Na qualidade, eu mesmo, de um adepto da Escola Peripatética
[Aristóteles], não advogo a causa dos estoicos, mas me esforcei para lhes fazer
justiça, e talvez um pouco mais, não tendo permanecido atento para subtrai-lhes
alguns méritos alheios tidos como próprios. O Pórtico foi creditado com muita
coisa que realmente pertencia à Academia ou ao Liceu. Se você despir o
estoicismo de seus paradoxos e de seu uso abusivo proposital da linguagem, tudo
o que restará é a filosofia moral de Sócrates, Platão e Aristóteles, com uma
pitada da física de Heráclito. O intento foi de apresentar um esboço da
doutrina estoica baseado nas autoridades originais.
ST. George Stock, M. A.
Pemb.
Coll. Oxford.
Capítulo I — Filosofia entre os gregos e os romanos
Entre os gregos e os romanos da era clássica, a filosofia
ocupava o lugar assumido pela religião entre nós. Recorriam à razão e não à
revelação. O motivo que o levava a agir assim, em uma primeira instância, pode
ter sido meramente a influência de um amigo ou o discurso de algum orador
eloquente, mas a escolha uma vez feita era a sua própria escolha, e ele aderia
a ela como tal. Quando um jovem se associava a uma escola, seu compromisso era
com todos os pontos de vista dela, não apenas ao que dizia respeito aos objetivos
de vida.
A grande lição da filosofia
grega é que vale a pena agir corretamente independentemente de recompensas e
punições, e a despeito da curta duração da vida. Essa lição foi tão inculcada
pelos estoicos por força da seriedade de suas vidas e a influência de seu
ensinamento moral que se tornou mais particularmente associada a eles.
O estoicismo originou-se da
escola cínica, tal como o epicurismo, da escola cirenaica.
Todos o gregos concordavam que
havia um fim ou objetivo para a vida, e que este era para ser chamado de
"felicidade", mas a sua concordância terminava por aí.
Capítulo II — Divisão
da filosofia
A filosofia era definida pelos estoicos como "o
conhecimento das coisas divinas e humanas". Foi dividida em três
departamentos: lógica, ética e física. Na verdade, essa divisão existia antes
do tempo dos estoicos, mas eles ficaram com o crédito disso, como de algumas
coisas que não criaram. Cleantes, fomos informados, reconhecia seis partes da
filosofia, nomeadamente a dialética, a retórica, a ética, a política, a física
e a teologia. Em relação aos três departamentos, a lógica se ocupa da forma e
expressão do conhecimento; a física, da matéria do conhecimento; e a ética, do
uso do conhecimento.
Ordem de estudo dos três
departamentos: o lógico deveria vir em primeiro lugar; o ético, em segundo; e o
físico, em terceiro.
Capítulo III — Lógica
Os estoicos obtiveram uma reputação tremenda no que respeita à
lógica. Nesse departamento foram os sucessores, ou melhor, foram eles que
tomaram o lugar de Aristóteles.
Mas se os estoicos foram fortes
em lógica, foram fracos em retórica. Ao nos referirmos à "Lógica"
como um dos três departamentos da filosofia, é necessário termos em mente que
esse termo tinha um sentido muito mais amplo do que tem entre nós. Incluía a
retórica, a poética e a gramática, bem como a dialética, ou lógica propriamente
dita.
A lógica como um todo sendo
dividida em retórica e dialética, a retórica foi definida como sendo "a
ciência de como falar bem nos discursos expositivos", e a dialética como
sendo a "ciência de como argumentar acertadamente em matérias envolvendo
questões e respostas".
Capítulo IV — Ética
Foi-nos dito que, segundo a estimativa dos estoicos, havia oito
partes na alma. Estas eram os cinco sentidos, o órgão do som, o intelecto e o
princípio reprodutivo. É de se observar visivelmente a ausência das paixões,
pois a teoria estoica era a de que as paixões eram simplesmente o intelecto em
um estado doentio, devido às perversões da falsidade.
O intelecto livre de
perturbações era o monarca legítimo no reino do ser humano. Daí os estoicos a
ele se referirem comumente como "o princípio condutor". Essa era a
parte da alma que recebia as fantasias, e também era aquela na qual eram
gerados os impulsos, com o que temos a ver agora mais particularmente.
Capítulo V — Física
Capítulo VI —
Conclusão
Ao declarar ante seus juízes que "nenhum mal existe para o
homem bom ou na vida ou após a morte, nem são seus negócios negligenciados
pelos deuses", Sócrates emitiu o tom fundamental do estoicismo, com suas
duas doutrinas principais da virtude como único bem e do governo do mundo pela
Providência. Uma grande quantidade de coisas comumente chamadas de males pode
acometer o homem durante a sua vida. O único mal que jamais pode atingi-lo é o
vício, porque seria uma contradição terminológica. Não há nenhum mal, exceto o
vício, o que significa que não há nenhum bem exceto a virtude. Deus removeu dos
bons todo o mal, porque deles suprimiu crimes e pecados, maus pensamentos e
projetos egoístas, a luxúria cega e a avidez da avareza.
Nada há de mais distintivo com
referência a Sócrates do que a doutrina de que virtude é conhecimento.
A virtude, junto aos primeiros
filósofos gregos, tinha o caráter aristocrático e exclusivo. O estoicismo, como
o cristianismo, a franqueou aos mais inferiores entre os seres humanos.
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